Recentemente, mencionamos o plano de governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC) em 1994 como um bom exemplo para definir prioridades de forma clara e estratégica.
Ao revisitarmos esse plano, e também o de 1998, encontramos elementos replicáveis que, mesmo após três décadas, ainda servem como base para a elaboração de planos de governo eficazes, compreensíveis e comunicáveis.
Veja agora o primeiro artigo de muitos que ainda faremos analisando planos de governo de candidatos, vencedores ou não, de todos os matizes ideológicos. A ideia é mostrar de modo concreto elementos presentes nesses planos e que podem balizar a construção do seu plano de governo. Certamente, também surgirão exemplos do que não fazer…
O plano de governo de FHC em 1994
Em 1994, o Brasil estava em transição, após um longo período de instabilidade econômica. O Plano Real havia sido lançado no governo Itamar Franco, após o impeachment de Fernando Collor.
FHC, então Ministro da Fazenda, era o principal nome associado à estabilização da moeda. Por isso, consolidou-se como candidato a presidente da República pelo PSDB, em aliança com PFL e PTB.
O plano de governo apresentado por Fernando Henrique partia justamente dessa conquista: a estabilidade seria a base para transformar o país.
Para facilitar a comunicação com o eleitor, as prioridades do plano foram organizadas em cinco grandes temas, que foram associados à famosa imagem dos cinco dedos de uma mão:
- Emprego
- Agricultura
- Segurança
- Educação
- Saúde

Essa estrutura funcionava como uma metáfora simples, fácil de memorizar e com forte apelo visual. Mais do que uma ideia de marketing, era uma forma de traduzir para o público as áreas que seriam tratadas como prioridade máxima.
Cada tema vinha acompanhado de diagnóstico, propostas concretas e metas de curto, médio e longo prazo.
Por exemplo: na educação, o foco era a universalização do ensino fundamental e a valorização do magistério. Na saúde, a ênfase era na estruturação do Sistema Único de Saúde. Na segurança, havia propostas para a modernização das polícias e combate à violência urbana.
O que faz esse plano replicável até hoje?
Apesar do contexto histórico específico e de pertencer à era pré-internet, o plano de 1994 contém elementos que seguem válidos:
- Síntese temática: Priorizar poucos eixos centrais ajuda a organizar o plano e também a comunicação da campanha.
- Metáfora visual (os 5 dedos da mão): Um recurso poderoso de memorização e engajamento.
- Linguagem acessível: Mesmo com complexidade técnica no conteúdo, o discurso político era claro e direto.
- Alinhamento entre plano e narrativa de campanha: Estabilidade econômica era o eixo do discurso e do plano.
A “receita de bolo” do plano de governo de FHC em 1994
- Escolher um pilar central (exemplo: estabilidade, justiça social, inovação)
- Selecionar de 3 a 5 temas prioritários, com impacto direto na vida das pessoas
- Para cada tema:
- Apresentar o problema
- Indicar o que já foi feito (quando houver)
- Apontar o que será feito
- Usar uma imagem facilmente comunicável (como os 5 dedos da mão)
- Alinhar o plano ao discurso público e à identidade do candidato
A reeleição e o plano de governo de FHC em 1998
Quatro anos depois, já como presidente, FHC apresentou seu plano de reeleição. A estrutura dos pontos prioritários se manteve, reforçando a eficiência daquela comunicação. A diferença foi o reforço das entregas do primeiro mandato como base para o que ainda precisava ser feito.
O plano de 1998 mantinha a linguagem pedagógica, destacava os avanços conquistados com a estabilidade econômica e propunha consolidar e expandir políticas públicas estruturantes.
A “receita de bolo” do plano de governo de FHC em 1998
Se em 1994 a receita era organizar prioridades para iniciar um governo, a de 1998 mostra como apresentar continuidade com inovação, algo crucial numa campanha de reeleição:
- Traduzir novamente temas centrais repetindo a potente simbologia da mão erguida
- Mostrar o que foi feito em cada um dos temas do plano de governo da eleição anterior, com dados objetivos
- Apontar o que ainda falta fazer, mostrando que há plano e direção
- Manter a coerência da linguagem política: clareza, foco e simplicidade
- Atualizar as propostas sem perder o eixo principal (no caso, estabilidade + inclusão social).
E como podemos aproveitar as duas receitas?
Tanto o plano de 1994 quanto o de 1998 seguem uma lógica que pode e deve ser utilizada por qualquer candidatura que queira apresentar propostas sérias de forma clara e compreensível. Abaixo, condensamos os elementos comuns:
- Tenha um eixo principal claro e comunicável
- Escolha de 3 a 5 prioridades com impacto direto na vida da população
- Para cada prioridade, mostre o problema e a solução proposta (e o que eventualmente já tiver sido feito pelo candidato)
- Use recursos simbólicos ou visuais para facilitar a memorização
- Garanta que o plano esteja alinhado com o discurso do candidato e com a realidade local ou nacional
- Prefira compromissos viáveis a promessas mirabolantes
- Estruture o plano para ser compreendido por qualquer pessoa (lembre-se de que 3 em cada 10 brasileiros são analfabetos funcionais).

Em resumo
Os planos de governo de FHC, tanto o de 1994 quanto o de 1998, são exemplos valiosos de como comunicar ideias com clareza, organizar prioridades e transformar promessas em propostas.
Mesmo após 30 anos e tantas mudanças no mundo e na comunicação, eles ainda ensinam muito sobre como construir um plano político que seja, ao mesmo tempo, técnico e popular.
Quer ver o plano de governo de FHC em 1994? É só clicar aqui. E se quiser ver o plano de governo de FHC em 1998, clique aqui.



