Quando comecei a estudar Inteligência Coletiva na pós-graduação em Marketing, percebi que muitos dos conceitos que aprendemos sobre colaboração, diversidade de ideias e construção conjunta fazem total sentido também para a política.
Isso fica ainda mais claro quando falamos da necessidade de ter um bom plano de governo, especialmente nesta fase em que nos preparamos para as Eleições 2026.
O que me chamou atenção logo de início foi a ideia de que a inteligência coletiva permite um salto de qualidade. Ao unir diferentes pessoas, histórias, conhecimentos e sentimentos, o grupo produz algo maior do que a simples soma das partes.
E isso é exatamente o que um plano de governo precisa ser: um projeto político construído com a força de muitas mãos, com legitimidade popular e capacidade de conectar propostas à vida real.
Por que usar inteligência coletiva no plano de governo?
Um plano de governo que se fecha em poucas cabeças, por mais brilhantes que sejam, tende a cair em dois riscos: ou fica genérico, ou se desconecta das demandas reais da sociedade.
Já quando o plano nasce de um processo colaborativo, ele ganha:
- Conexão com a realidade local e regional
- Maior aceitação pública e legitimidade
- Possibilidade de fortalecer alianças políticas
- Ideias mais criativas e viáveis
- Aproximação entre campanha e eleitorado
- Capacidade de mobilização durante e depois da eleição
E há um benefício estratégico importante: um plano assim influencia positivamente a decisão de voto, porque o eleitor sente que teve voz e tende a confiar mais em quem o escutou. Em tempos de inteligência artificial, vale lembrar que a contribuição mais valiosa ainda vem da inteligência humana, feita de gente com carne, osso e sentimento.
Quais métodos aplicar?
A inteligência coletiva aplicada ao plano de governo pode seguir uma estrutura em etapas. Abaixo, mostro alguns métodos, com base em modelos usados em empresas, experiências de plataformas digitais e nas anotações que fiz quando tive na pós-graduação a disciplina de Inteligência Coletiva:
1. Escuta estruturada
Antes de escrever propostas, é preciso entender o lugar que se quer governar.
- Entrevistas com lideranças locais, especialistas, movimentos sociais e setoriais.
- Formulários online, QR codes nas redes, canais de WhatsApp.
- Escutas territoriais e temáticas.
Aqui, misturam-se os princípios da inteligência estatística (dados) com os da inteligência reflexiva (diálogo).
2. Oficinas e rodas de cocriação
Momento de transformar os problemas levantados em propostas reais.
- Grupos mistos (técnicos, populares, servidores, etnias, jovens, mulheres etc).
- Uso de mapas visuais, quadros de propostas, dinâmicas participativas.
- Pode ser online ou presencial.
É onde entra a inteligência reflexiva e a estrutural: o espaço precisa ser propício à troca e à construção colaborativa.
3. Validação técnica e viabilidade
Nem toda boa ideia é viável. Aqui é preciso envolver equipes técnicas para:
- Analisar custos, impactos, juridicidade.
- Cruzar com dados de orçamento e indicadores.
A inteligência coletiva também precisa passar pela inteligência de sistemas, ou seja, combinar escuta popular e conhecimentos técnicos.
4. Priorização coletiva
É preciso definir o que vem primeiro. A população pode (e deve) ajudar nisso.
- Votação popular nas redes.
- Enquetes presenciais e digitais.
- Consulta pública sobre áreas prioritárias.
Esse processo fortalece a coordenação coletiva e gera senso de pertencimento: “fui ouvido e ajudei a decidir”.
5. Comunicação e devolutiva
Transparência é essencial. O plano precisa mostrar o que veio da população e por que foi incluído.
- Cards com propostas que surgiram do povo.
- Vídeos com bastidores da escuta, para redes sociais e propaganda na TV
- Apresentação clara do que será prioridade.
Esse processo transforma conhecimento tácito (sentimento popular) em conhecimento explícito (propostas escritas).
Quais os riscos e como evitá-los?
Nem toda ação coletiva gera bons resultados. A chamada “estupidez coletiva” também é um risco. Para evitá-la:
- Fuja do efeito manada: diversifique grupos e opiniões.
- Não dependa só do digital: combine escuta online e presencial.
- Estimule o pensamento crítico: crie momentos de reflexão, não só coleta.
- Recompense e valorize a participação: reconheça quem contribuiu, gere pertencimento.
E o que tudo isso tem a ver com as Eleições 2026?
Nas Eleições 2026, o Brasil vai escolher quem vai governar os estados e o país. Mas, além de nomes, as pessoas vão avaliar ideias e propostas. Um plano de governo que nasce da inteligência coletiva tem mais chance de:
- Conquistar a confiança do eleitor
- Gerar conteúdo relevante para a campanha
- Mobilizar redes e grupos sociais
- Envolver quem normalmente não participa da política
- Ganhar fôlego para vencer e governar bem
E, num cenário de descrença na política, usar inteligência coletiva é uma forma de mostrar que o projeto não é de uma só pessoa, mas de um país ou estado inteiro que quer se transformar.



