Capa do plano de governo Acir Gurgacz, com o número 12 destacado em um coração branco sobre fundo azul escuro e a frase “12 passos para mudar Rondônia”.

O que aprendi escrevendo o plano de governo de Acir Gurgacz em 2018

Foto de José Roberto Martins

José Roberto Martins

Jornalista e Especialista em Comunicação Governamental e Marketing Político | IDP Brasília

Relato de uma experiência prática sobre como encontrar coerência entre dados, ideias, propósitos e projeto de campanha

Escrever o plano de governo Acir 2018 foi uma experiência e tanto. Mais do que dominar a linguagem, foi preciso dar forma a um projeto político.

Em 2018, trabalhei na redação final do plano de governo de Acir Gurgacz, candidato a governador de Rondônia. Acir é pioneiro no estado, empresário, ex-prefeito de Ji-Paraná e exercia, então, o segundo mandato de senador. Um nome conhecido. E o desafio era transformar esse currículo em proposta de futuro, com começo, meio e rumo.

Olhares diversos conectados por uma linha-mestra

O desafio, em primeiro lugar, foi trabalhar em cima de materiais vindos de várias fontes. Grupos temáticos, técnicos, aliados. Cada um com seu jeito de pensar, escrever, priorizar.

Isso é muito comum quando se fala em elaborar plano de governo. Definem-se os responsáveis por áreas e cada um traz o seu material. Mas não dá simplesmente pra colar os materiais variados.

É preciso costurar tudo com coerência, respeitando os diferentes olhares. E sem perder o tom da campanha. No caso de Rondônia em 2018, era uma candidatura de mudança. O foco era tratar dos problemas reais e apresentar as soluções possíveis.

Para que o plano tivesse força política e clareza comunicacional, ele precisa de uma linha-mestra. Assim nasceu a ideia de organizar as propostas do Acir em 12 grandes eixos: os “12 passos para mudar Rondônia”. Uma estrutura que fazia sentido político, simbólico e editorial, já que o número do partido era o 12.

Apesar dessa divisão ampla, o plano ficou objetivo. Tinha pouco mais de 20 páginas impressas, bem diagramadas, sem letras espremidas nem enrolação. Isso também foi uma escolha: comunicar bem sem pesar a mão no volume.

Também fui roteirista dos programas de TV. Logo no primeiro, o manifesto da candidatura já dava o sentido do que era proposto no plano de governo Acir 2018.

Olhando para trás, mais de sete anos depois, vejo que ficaram lições importantes do processo de redação do plano de governo Acir 2018, não somente como memória de campanha, mas como aprendizado útil. É isso que quero dividir aqui:

1. Clareza é mais importante do que volume

Um bom plano de governo não precisa ser longo. Precisa ser claro. Com textos bem organizados, objetivos e fáceis de entender. A gente não escreve plano de governo pra impressionar especialistas. Escreve pra informar, mobilizar e inspirar a população. O plano do Acir provou isso: mesmo com 12 eixos, foi direto ao ponto.

2. Realidade tem que aparecer, mas não precisa gritar

A tentação de fazer um plano técnico demais ou, ao contrário, panfletário demais, pode ser grande. Porém, no meu entendimento, a solução está no equilíbrio.

No caso do plano do Acir, o diagnóstico sobre a realidade estava lá, mas embutido no próprio texto das propostas. Não fizemos um capítulo só pra listar problemas. Preferimos mostrar o que estava errado ao apresentar como poderia ser diferente.

3. O tom da campanha precisa estar no plano

Isso vale ouro. Se a campanha, por exemplo, fala em esperança e o plano vem raivoso, algo se quebra. No caso do Acir, desde o início, o tom era de mudança com responsabilidade. A crítica não era o foco, era o caminho. Isso se refletiu em cada parte do texto. Não era só o que se dizia, mas como se dizia.

4. A biografia do candidato como reforço

As experiências do candidato, como pioneiro, gestor e senador, apareciam nas entrelinhas das propostas. Quando o plano tratava de infraestrutura, segurança, saúde, agricultura, havia base. Isso dava credibilidade sem precisar dizer “eu já fiz”. Bastava mostrar que o candidato sabia o que estava propondo.

5. Tudo está conectado (e precisa parecer que está)

Talvez o ponto mais importante: os eixos do plano não eram compartimentos isolados. Educação se conectava com segurança. Turismo com cultura e infraestrutura. Agricultura com inclusão e sustentabilidade. Esse trabalho de costura silenciosa dá grande consistência ao plano. E ajuda a campanha a ter um discurso alinhado do começo ao fim.

Em resumo: clareza, coerência e conexão

Fazer um plano de governo não é só cumprir uma obrigação legal. É traduzir um projeto político em palavras. É organizar uma visão de futuro de um jeito que faça sentido pra quem vai ler. E, mais do que isso, pra quem vai votar.

Por isso, escrever o plano de governo Acir 2018 foi para mim um bom desafio: conciliar visões distintas, linguagens diferentes, áreas com prioridades próprias. Tudo vindo de pessoas que, embora alinhadas no objetivo político, tinham jeitos diversos de pensar e propor. Foi a minha primeira imersão profunda na construção de um projeto de governo. Um aprendizado valoroso ao acompanhar de perto como se constrói, em palavras, um caminho possível para a gestão pública.

Se você vai escrever (ou revisar) um plano de governo, vale lembrar: clareza, coerência e conexão com a campanha são tão importantes quanto o conteúdo em si. Bons planos ajudam a construir bons mandatos. E uma boa campanha começa, antes de mais nada, por um bom plano.