Pessoa apresentando um flipchart com a palavra "Storytelling" em destaque e a frase "Chega de planos que ninguém lê!", diante de uma sala com pessoas diversas. A imagem representa o uso do storytelling no plano de governo como ferramenta de comunicação mais eficaz.

Por que usar storytelling para criar um plano de governo?

Foto de José Roberto Martins

José Roberto Martins

Jornalista e Especialista em Comunicação Governamental e Marketing Político | IDP Brasília

O tempo dos PDFs frios ficou para trás! Aprenda como aplicar storytelling no plano de governo e escreva algo que vai turbinar a sua campanha eleitoral.

Contar uma boa história nunca foi apenas uma questão de estilo. É uma forma poderosa de organizar ideias, gerar sentido e engajar pessoas. E é exatamente isso que o storytelling no plano de governo pode oferecer: clareza, propósito e uma narrativa que transforma propostas em direção.

Quando a gente olha mais a fundo como grandes narrativas funcionam, seja na política, no cinema ou nos movimentos sociais, fica claro que os elementos centrais do storytelling podem (e devem) ser adaptados à construção de um bom plano de governo. Esses elementos formam um conteúdo riquíssimo, capaz de iluminar um aspecto ainda pouco explorado: a capacidade do plano de governo se tornar uma história compartilhável, compreensível e mobilizadora, e não apenas um repositório de promessas técnicas.
Não estou falando de colocar “firulas” no texto ou transformar um documento técnico em literatura. Mas, sim, de usar a lógica das narrativas bem construídas para estruturar melhor o plano, torná-lo mais envolvente e, principalmente, mais compreensível.

Afinal, por mais que o plano de governo seja uma exigência formal do TSE, ele também é (ou deveria ser) um guia claro da transformação que se pretende promover. Além de tudo, um plano de governo envolvente contribui para o andamento de toda a campanha, na TV, no rádio, no ambiente digital e nas ruas. O resultado: conquistar votos para vencer as eleições

O que é storytelling e o que isso tem a ver com plano de governo?

Storytelling é, em essência, a arte de contar histórias com propósito. Mas não qualquer história: uma boa narrativa tem começo, meio e fim, conflito, emoção, transformação. É assim que conseguimos prender a atenção, provocar identificação e despertar engajamento.

E isso vale para qualquer tipo de comunicação, inclusive um plano de governo. Quando estruturamos o plano com lógica narrativa, ele deixa de ser apenas um conjunto de promessas e passa a ser o mapa de uma transformação.

A jornada do herói aplicada ao plano de governo

A estrutura clássica do storytelling, conhecida como jornada do herói, pode ser adaptada para dar vida a um plano de governo com mais clareza, empatia e força política.

Veja como isso se traduz:

  • Substância: todo plano precisa de um diagnóstico. Qual é a realidade atual? Onde estão os desequilíbrios, os gargalos, as injustiças? Aqui está o ponto de partida.
  • Incidente inicial: o que aconteceu para que essa candidatura surgisse? O que rompeu o ciclo anterior e exige uma mudança?
  • Composição: quais são os conflitos que precisam ser enfrentados? Desigualdades regionais? Estagnação econômica? Crise ambiental?
  • Crise: o plano precisa mostrar que existe uma encruzilhada. E que as escolhas não são neutras: cada uma define um rumo.
  • Clímax: é quando o plano alcança sua proposta mais ambiciosa. É a grande virada. O país (ou estado ou cidade) chega a um novo patamar.
  • Resolução: o plano precisa deixar claro que há caminho, há como realizar e quais são os efeitos duradouros dessas ações.

Essa jornada pode ser aplicada tanto à história do candidato quanto à narrativa central do próprio plano.

Diagrama da jornada do herói, com etapas como “chamado à aventura”, “travessia do limiar” e “ressurreição”, representando a estrutura clássica das narrativas. A imagem serve de inspiração para aplicar o storytelling no plano de governo, transformando propostas em trajetórias com sentido.
Este diagrama da jornada do herói, comum na literatura e no cinema, inspira o uso do storytelling no plano de governo para dar forma, emoção e direção às propostas políticas. (Fonte: táLIGADO Comunicação Conectada)

O plano como movimento coletivo

Um plano de governo não se sustenta apenas na trajetória individual de um candidato. Quando bem construído, ele dá lugar a algo maior: uma narrativa coletiva, que une diferentes vozes em torno de uma causa comum e dá mais força para a construção da vitória eleitoral. E é aí que o storytelling se mostra ainda mais poderoso, porque boas histórias também criam pertencimento.

Alguns elementos fundamentais dessa construção:

  • Causa: por que isso importa? O que está em jogo?
  • Inimigo comum: o que precisa ser combatido para que haja mudança?
  • Futuro que não queremos: quais as consequências de manter tudo como está?
  • Futuro que queremos: qual é o país (ou estado ou cidade) que estamos propondo construir?
  • Chamada para a união: um plano que convida, que abre espaço para a participação.

Com essa estrutura, o plano deixa de ser mais um PDF perdido nos arquivos do TSE e passa a ser uma proposta realmente mobilizadora.

A importância dos arquétipos na comunicação do plano

Além da estrutura da narrativa e da força das histórias coletivas, outro elemento essencial do storytelling no plano de governo é a definição de arquétipos.

Os arquétipos são padrões universais de comportamento e identidade que aparecem nas histórias desde sempre: o herói, o governante, o sábio, o fora-da-lei… Você já viu isso nos filmes de Hollywood e nas telenovelas. Eles ajudam o público a reconhecer, de forma quase instintiva, o papel de cada personagem dentro de uma narrativa.

Na comunicação política, esses arquétipos se manifestam tanto na figura do candidato quanto na forma como o plano de governo se apresenta: com que tom, com que postura, com que visão de mundo.

Alguns exemplos:

  • Governante: transmite estabilidade, liderança, ordem.
  • Herói: enfrenta desafios e propõe superação.
  • Prestativo: coloca os mais vulneráveis no centro das prioridades.
  • Criador: propõe inovação, novos caminhos.
  • Sábio: apresenta dados, soluções técnicas, base analítica.

Esses arquétipos ajudam a dar coerência e autenticidade ao plano, o que facilita sua comunicação, inclusive nos materiais da campanha.

Diagrama circular com arquétipos narrativos como Criador, Governante, Herói e Rebelde, organizados por motivações centrais como “Conferir estrutura”, “Buscar sentido espiritual”, “Conectar-se a pessoas” e “Deixar uma marca”. A imagem ilustra como os arquétipos ajudam a orientar o uso do storytelling no plano de governo.
Este diagrama apresenta os arquétipos clássicos das narrativas, como Herói, Governante e Prestativo, e suas motivações. Esses modelos ajudam a construir uma identidade coerente e estratégica ao aplicar o storytelling no plano de governo. (Fonte: Employer Branding)

Em resumo

As Eleições 2026 estão chegando e vão exigir mais do que slogans e redes sociais ativas. O eleitor está cada vez mais exigente. E o plano de governo, mesmo sendo um documento formal, pode ser o alicerce de toda a campanha, desde que bem feito, bem escrito e narrativamente consistente. Storytelling te ajuda nisso!

Se você está construindo um plano, pense nele como uma história que precisa ser contada. Com começo, meio e fim. Com verdade, clareza e propósito.