Pessoa caminha ao lado de uma seta amarela no asfalto que se divide em duas direções, representando escolhas no contexto dos gatilhos mentais na construção do plano de governo.

Mais 5 gatilhos mentais na construção do plano de governo; o último vai fazer barulho!

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José Roberto Martins

Jornalista e Especialista em Comunicação Governamental e Marketing Político | IDP Brasília

Essas ferramentas vão te ajudar a escrever um plano de governo vencedor, com propósito e estratégia

Nos bastidores da decisão humana, há um piloto automático invisível. O cérebro não tem tempo nem energia para racionalizar cada escolha. Por isso, recorre a atalhos para tomar decisões mais rápidas e eficientes. São os chamados gatilhos mentais.

A psicologia chama isso de heurísticas cognitivas. São mecanismos automáticos que nos fazem, por exemplo, escolher um restaurante cheio em vez de um vazio (se não tem clientes, não deve ser bom…), confiar mais em alguém com jaleco branco ou clicar naquele botão “só restam 2 unidades!”. Esses gatilhos funcionam porque foram moldados por milhares de anos de evolução.

E, claro, os gatilhos mentais também operam na hora do voto. Afinal, o eleitor é um ser humano (mesmo nesta era de robôs de IA e fazendas de likes…). E, como tratamos no primeiro artigo, aplicar gatilhos mentais na construção do plano de governo é uma forma legítima de criar um documento mais conectado com as pessoas e com o modo de decidir delas. Falamos sobre conexão, transformação, reciprocidade, prova social e afinidade. Agora, vamos ver mais 5 gatilhos que podem tornar seu plano de governo mais persuasivo.

1. Autoridade

Imagine que alguém propõe uma mudança profunda na educação pública da sua cidade. A primeira pergunta que vem à cabeça é: “Essa pessoa sabe do que está falando?”

O gatilho da autoridade responde a isso. Ele deve aparecer desde a pré-campanha e, na campanha, pontuar o plano de governo. Com isso, o candidato vai:

  • Expor com clareza sua experiência e histórico de realizações
  • Demonstrar que conhece os caminhos legais, orçamentários e institucionais para tirar as ideias do papel
  • Mostrar domínio técnico, sem arrogância nem embromação.

Exemplo de uso no plano de governo:

“Como secretário da Fazenda, Fulano de Tal criou o sistema que reduziu o tempo de abertura de empresas de 45 para 5 dias. Agora, na prefeitura, vamos usar essa experiência para transformar o ambiente de negócios do município e gerar mais empregos.”

Mostre que o candidato sabe fazer, tanto que já fez. Isso ativa no eleitor a sensação de segurança: “se funcionou antes, pode funcionar de novo”.

Esse tipo de demonstração também pode acionar outro gatilho poderoso, que foi mencionado no primeiro artigo: o da reciprocidade. Quando o eleitor reconhece uma entrega concreta, cresce nele a vontade de retribuir com confiança e com o voto.

2. Compromisso e Coerência

Nenhuma campanha sobrevive apenas de boas intenções. E o eleitor costuma perceber quando as promessas não têm lastro. O gatilho do compromisso e da coerência convida o candidato e sua equipe a começar com uma reflexão profunda:

  • Qual é a proposta de valor da campanha?
  • O que se pretende entregar, de fato?
  • As propostas cabem no orçamento?
  • Há histórico de ações na mesma direção do que se está propondo?

Se as respostas forem frágeis, o plano de governo também vai ser. E aí já viu, né? O desgaste da incoerência costuma cobrar seu preço lá na frente e ele é bem alto: a derrota.

Exemplo de uso no plano de governo:

“Sabemos que o orçamento tem limitações. Por isso, nossas metas estão organizadas em três etapas: ações imediatas, de médio e de longo prazo, priorizando quem mais precisa.”

Compromisso bem apresentado e coerência entre discurso e prática são marcas que geram confiança duradoura e conquistam votos.

3. Urgência

No marketing comercial, a urgência funciona porque há um impulso imediato de compra e o consumidor é induzido, antes de mais nada, a agir sem pensar muito. São aquelas famosas frases apocalípticas: “últimas unidades”, “oferta relâmpago”, “só amanhã, no Magazine Luiza!” e por aí afora.

No marketing político, o processo é outro. O voto exige (ou pelo menos deveria exigir) reflexão, comparação e confiança. Mas ainda assim podemos transpor o gatilho da urgência à natureza da escolha eleitoral.

Neste caso, a urgência pode se manifestar como um alerta sobre o custo da espera. O plano de governo pode deixar claro ao eleitor que este é o momento de decidir com responsabilidade, porque adiar pode significar perder muito.

Exemplo de uso no plano de governo:

Para campanhas de oposição, a urgência aparece no risco de manter tudo como está:

“Se tudo continuar como está, o número de crianças fora da escola vai dobrar em dois anos. A mudança precisa começar agora.”

Para candidatos à reeleição ou de continuidade, a urgência se expressa no risco da interrupção:

“Nos últimos anos, avançamos muito. Agora é a hora de continuar esse trabalho. Não podemos parar e muito menos voltar atrás.”

A urgência política, em contraste com a urgência comercial, tem um apelo menor ao impulso. Ela convida à consciência.

4. Inimigo Comum

Toda boa história tem um antagonista (Odete Roitman, por exemplo…) No plano de governo, isso pode ser usado com inteligência para mobilizar. Não se trata (necessariamente) de atacar adversários, mas de identificar o problema coletivo que precisa ser enfrentado.

Esse inimigo pode ser o abandono, a burocracia, a desigualdade, a corrupção, a incompetência, o desprezo pela cultura, o sucateamento da saúde…

O inimigo comum também pode ser encontrado no plano de governo dos seus adversários… Isto é, aquela proposta ruim, mal pensada ou insensível, que vai prejudicar a população se for colocada em prática.

Exemplo de uso no plano de governo:

“A burocracia consome energia e tempo do pequeno empreendedor. Nosso plano cria o Alvará Digital Imediato para combater essa trava invisível que tira empregos da cidade.”

Ao nomear o problema, você convida o eleitor para uma missão comum. Ele se sente parte de uma luta e de uma solução.

5. Polêmica

Por fim, temos o gatilho que faz barulho. Divide opiniões. Chama a atenção! Que nem o que o prefeito de Sorocaba usa no dia a dia. Mas será que dá pra aplicar no plano de governo?

Pois é, vamos refletir juntos. A polêmica, quando bem usada, pode diferenciar o plano. É a chave para propor uma abordagem corajosa, que talvez ninguém tenha ousado colocar no papel, mas que grande parte do eleitorado gostaria de ver. Temas sensíveis, quando tratados com responsabilidade, revelam firmeza, autenticidade e visão.

Exemplo de uso no plano de governo:

“Vamos revisar todos os contratos milionários com consultorias e redirecionar os recursos para reduzir a fila de cirurgias eletivas. Sabemos que isso incomoda setores privilegiados, mas nossa prioridade é a saúde da população.”

A polêmica, nesse sentido, não é provocação gratuita. É posicionamento claro e bem dosado. Use com moderação!

Em resumo: gatilhos certos ativam a decisão de voto

Usar gatilhos mentais na construção do plano de governo é alinhar comunicação e estímulos certos para a tomada de decisão, considerando a forma como a mente humana funciona. Ao ativar emoções, valores e percepções, é possível aproximar o plano e suas propostas daquilo que o eleitor sente e deseja. E isso faz diferença especialmente para quem ainda está refletindo, como os indecisos.

Assim, gatilhos mentais na construção do plano de governo, quando bem utilizados, dão vida às propostas, fortalecem a conexão com o eleitor e ampliam as chances de vitória.

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