Um guia prático para quem quer fazer diferente e transformar o plano de governo em uma ferramenta real para conquistar votos e vencer a eleição
Design Thinking no plano de governo é uma ideia que pode soar ousada à primeira vista. Mas é, na verdade, uma forma bastante prática de trazer método e criatividade para a elaboração do plano de governo.
Até porque a gente sabe como as coisas costumam funcionar… Passa-se muito tempo sonhando com a candidatura. Meses articulando apoios, montando chapa, buscando espaço no partido, tentando sobreviver à pré-campanha. Mas quando chega a hora de escrever o plano de governo… vira aquele Deus nos acuda. E muitas vezes sai um documento às pressas, sem método, sem escuta real, sem tempo para pensar coletivamente.
Só que o plano de governo pode e deve ser mais do que um mero improviso. Pense nele como uma ferramenta estratégica para fortalecer a campanha, guiar a comunicação, mostrar preparo e conectar o candidato com os reais problemas das pessoas. E, como resultado, conquistar votos e vencer as eleições.
Mas, para isso, é preciso fazer diferente. E o Design Thinking é uma mão na roda!
O que é o Design Thinking e por que ele importa?
Ouvi falar sobre Design Thinking pela primeira vez em 2013, na pós-graduação em Marketing. Mas eu já estava atrasado, porque essa metodologia nasceu no final dos anos 1960, nos Estados Unidos, a partir da observação do modo como designers pensam e resolvem problemas.
A ideia central é simples: o designer não enxerga só produtos. Ele enxerga problemas que afetam o bem-estar das pessoas. Por isso, seu trabalho começa com empatia, continua com investigação e só então avança para soluções. É um processo que mistura lógica e sensibilidade, dados e percepção, estrutura e intuição.
É justamente por isso que tanta gente começou a aplicar o Design Thinking em áreas como educação, saúde, serviços públicos e inovação social. E se isso funciona tão bem na inovação, por que não aplicar na política? Dessa forma, também faz sentido usá-lo na construção de um plano de governo que leve em conta as pessoas, os dados e a realidade local.
O que faz sentido aproveitar do Design Thinking na hora de criar um plano de governo?
Utilizar Design Thinking no plano de governo é possível e recomendável. Claro que nem tudo precisa (ou deve) ser aplicado de forma literal. Essa é uma ferramenta que nasceu no mundo corporativo, no universo dos produtos e serviços. Mas muita coisa do Design Thinking pode e deve ser aproveitada no processo de criação de um plano de governo.
O que faz muito sentido é a forma de pensar:
- Dividir grandes problemas em partes menores, como ensinou o professor Randy Rachwal nas aulas da pós em 2013: “cortar o problema para enxergar melhor cada pedaço”.
- Fazer um diagnóstico verdadeiro, com escuta qualificada, indo além do mero achismo.
- Reunir pessoas diferentes para pensar em conjunto, testar ideias antes de formalizá-las e priorizar com critério.
- Transformar o plano em algo vivo, construído com as mãos e a cabeça de quem conhece o lugar.
O que acontece em cada fase do Design Thinking no plano de governo?
1. Empatia e diagnóstico
Aqui é onde tudo começa. É hora de escutar, observar, entender. Vale usar entrevistas em profundidade, grupos focais, análise de redes sociais (netnografia), leitura de dados e escuta qualificada em campo.
2. Definição dos desafios
Com base no que foi coletado, a equipe define os desafios centrais. Aqueles que, se resolvidos, geram transformação real. É a hora de perguntar: “como podemos resolver tal problema?”. Essa pergunta guia o raciocínio e ajuda a manter foco nas coisas que realmente importam.
3. Ideação e cocriação
Etapa para pensar soluções. Reuniões de brainstorming com especialistas, técnicos, apoiadores, gente do povo. Nada de censurar ideias nessa fase, porque o importante é criar possibilidades.
4. Seleção e priorização
Com a lista de ideias em mãos, é hora de aplicar critérios: impacto, viabilidade, urgência, capacidade de execução. Nem tudo cabe e não há problema em descartar o que não se sustentar de pé.
5. Testes e feedback
Antes de fechar a versão final do plano de governo, é bom validar. Em outras palavras, ver se a proposta faz sentido, se está compreensível e responde às dores reais da população. Às vezes, pequenos ajustes fazem muita diferença.
6. Redação final
Agora sim: revisar, alinhar com o discurso do candidato, ajustar linguagem e garantir que o plano seja claro, objetivo e inspirador.
7. Diagramação e preparação
Última etapa. Aqui entra a parte gráfica, identidade visual, revisão final e preparação do arquivo oficial para ser protocolado na Justiça e compartilhado com a população.
Mas atenção: Design Thinking exige tempo!
Essa abordagem tem muitas virtudes, mas uma limitação inegociável: ela precisa de prazo. Não dá para aplicar Design Thinking no plano de governo com o prazo estourando. É preciso ter tempo para o processo de escuta, aprofundar análises e refinar as propostas.
No caso das Eleições 2026, o prazo final para o registro das candidaturas será o dia 15 de agosto. E, você sabe, o plano de governo é um dos documentos exigidos no momento do registro.
Portanto, o ideal é que o plano de governo esteja pronto, revisado, diagramado e fechado até o dia 8 de agosto, para evitar tumulto. Pensando nisso, proponho um cronograma mínimo, que respeita as etapas do Design Thinking e permite um trabalho bem feito, com método, escuta e margem para ajustes.
Cronograma sugerido para utilizar Design Thinking na elaboração do plano de governo:
| Fase | Período | Duração |
| Empatia e diagnóstico | 19 de abril* a 8 de maio | 20 dias |
| Definição dos desafios | 9 de maio a 18 de maio | 10 dias |
| Ideação e cocriação | 19 de maio a 10 de junho | 23 dias |
| Seleção e priorização | 11 de junho a 24 de junho | 14 dias |
| Testes e feedback | 25 de junho a 8 de julho | 14 dias |
| Redação final | 9 de julho a 1º de agosto | 24 dias |
| Diagramação e preparação Final | 2 de agosto a 8 de agosto | 7 dias |
*Se puder, comece antes de abril!
Em resumo: mais do que um plano de governo, uma ferramenta de campanha
Aplicar o Design Thinking no plano de governo não é modismo. Até porque Design Thinking não é exatamente uma novidade. Mas é um sinal de maturidade, profissionalismo e cuidado com o plano que será apresentado aos eleitores. Além de evitar aquele “inferno” que é deixar algo tão importante para a última hora.
Para coordenadores, redatores e o próprio candidato, esse processo é uma chance de aprender com o território e as pessoas, traduzir as dores em ideias possíveis e apresentar propostas com cara de realidade, conversando diretamente com a cabeça e o coração do eleitor.



