Imagem em formato paisagem mostra uma lupa sobre um documento intitulado “PLANO DE GOVERNO”, ampliando palavras-chave como saúde, educação, segurança, economia, ação social, cultura, esporte e inovação. A cena simboliza a análise do plano de governo dos adversários.

Análise do plano de governo dos adversários: um trunfo estratégico nas Eleições 2026

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José Roberto Martins

Jornalista e Especialista em Comunicação Governamental e Marketing Político | IDP Brasília

Entenda por que estudar as propostas dos concorrentes evita surpresas, ajuda na preparação para debates e aumenta as chances de vencer a eleição!

A análise do plano de governo dos adversários é uma prática que toda campanha deveria realizar com método e cuidado estratégico. Não basta elaborar bem o seu próprio plano: é preciso conhecer em detalhes o que os outros estão propondo. Esse cuidado pode ser decisivo em debates, entrevistas e na disputa pela narrativa eleitoral.

Por que ler o plano de governo dos adversários?

Antes de mais nada, é para encontrar falhas… Identificar pontos frágeis, superficiais ou mal elaborados. Em uma campanha, basta um equívoco ou algo mal explicado para colocar o adversário em posição desconfortável diante dos eleitores.

Um exemplo recente ilustra bem

Em 2024, nas eleições municipais, uma candidatura propôs um modelo de cobrança da tarifa de ônibus por quilômetro rodado na cidade onde concorria: quanto mais longe, mais caro; quanto mais perto, mais barato. À primeira vista, parecia uma ideia inovadora, em busca de uma tarifa mais justa: quem anda em percursos menores pagaria menos. No entanto, estudos mostraram que, para a maioria dos trajetos, a tarifa aumentaria. Isso poderia ter sido descoberto antes se a candidatura tivesse investigado o tema a fundo durante o processo de elaboração do plano. A questão é que quem descobriu isso foi o adversário, que demonstrou como o suposto benefício era, na prática, um prejuízo para os usuários. O resultado foi devastador: a proposta ruim virou munição nos debates e ajudou a consolidar a derrota daquela candidatura.

Esse caso mostra que a análise do plano de governo dos adversários permite que sua equipe esteja preparada para desmontar propostas frágeis e reforçar a consistência das próprias ideias.

Além disso, colocando uma lupa no que os adversários propõem, é possível perceber se depois do registro no TSE eles começaram a apresentar propostas copiadas do seu plano de governo. Dessa forma, você combate o plágio e garante o reconhecimento das suas ideias.

Como fazer a análise?

Para mapear o plano de governo dos adversários de forma eficiente, o processo deve ser sistemático. Ou seja, ir além de uma leitura superficial. É recomendável ter uma equipe dedicada, de preferência formada por pessoas que participaram da elaboração do seu próprio plano. Elas conhecem bem o diagnóstico local e o método de construção de propostas. Assim, saberão identificar contradições, lacunas e soluções inviáveis entre as proposições dos concorrentes.

Para isso, a leitura deve considerar três dimensões:

  1. Viabilidade técnica: a proposta tem base em dados e na realidade ou é apenas um desejo escrito no papel?
  2. Impacto eleitoral: a ideia pode soar bem na propaganda, mas que efeitos trará quando questionada em profundidade?
  3. Coerência política: o que está escrito é compatível com o discurso e a trajetória do candidato?

Ao avaliar o plano nessas dimensões, a equipe consegue identificar pontos vulneráveis do adversário e pode preparar questionamentos consistentes para usar em debates e entrevistas.

Esse processo guarda uma similaridade com o benchmarking, uma prática comum no mundo empresarial, que consiste em observar os concorrentes para aprender com seus erros e acertos. No caso da política, a análise do plano de governo dos adversários funciona como um benchmarking eleitoral: menos colaborativo e mais competitivo, útil para reforçar sua própria campanha e minar a viabilidade dos concorrentes.

Mas só as propostas ruins devem ser consideradas?

Não. É essencial que a análise do plano de governo dos adversários vá além de identificar erros. A preparação completa exige olhar para os dois lados. É preciso encontrar também as boas propostas dos concorrentes, que podem se transformar em um ativo poderoso para eles durante a campanha.

Como resultado, será possível preparar respostas estratégicas, para não ser surpreendido em debates ou entrevistas quando os temas surgirem.

Portanto, não ignore os pontos fortes dos planos alheios!

O que fazer com os resultados da análise do plano de governo dos adversários?

Ler e identificar o que há de bom e de ruim no plano do adversário é apenas a primeira etapa. Em seguida, vem o desafio de decidir o que fazer com essas informações.

É preciso transformar os resultados em narrativa política, capaz de fortalecer o seu projeto e de colocar o adversário em situação desfavorável no debate público.

As propostas ruins servem para expor contradições ou fragilidades do adversário. Mas use com cautela! O eleitor tem a tendência de considerar o excesso de críticas como baixaria e desespero. Avalie o melhor jeito de conduzir, para não vitimizar o adversário. Vítimas despertam solidariedade…

Por outro lado, quando o adversário apresenta uma boa proposta, o pior caminho é tentar copiá-la ou afirmar que faria a mesma coisa, só que melhor. Essa postura transmite oportunismo e falta de originalidade. O mais inteligente é tratar da demanda legítima que há por trás e apresentar a sua visão, seja oferecendo uma solução alternativa ou mostrando que sua candidatura tem melhores condições de lidar com aquele desafio.

Por que a análise do plano de governo dos adversários fortalece sua candidatura?

Quando bem feita, a análise transforma fraquezas e fortalezas alheias em ganhos estratégicos importantes para a sua candidatura:

  • Preparo para debates: conhecer a fundo o que outros propõem garante segurança para questionar e, ao mesmo tempo, defender suas posições.
  • Controle da narrativa: ao explorar contradições e fraquezas, a campanha pode pautar o debate público em cima de erros dos adversários.
  • Antecipação de acertos: ao mapear boas propostas, a equipe se prepara para contrapor ideias fortes e evita ser surpreendida.

Em resumo: analisar para explorar oportunidades  

Fazer a análise do plano de governo dos adversários é uma vantagem estratégica para qualquer campanha séria. Mais do que uma prática de confronto, é um modo de fortalecer a sua candidatura.

Afinal, em política, não vence apenas quem tem boas ideias, mas quem consegue colocar o adversário em desvantagem e demonstrar que suas propostas são mais sólidas, consistentes e viáveis para a realidade da população.