Um guia prático de estrutura, conteúdo e linguagem, para transformar propostas em vitórias eleitorais.
Nas eleições municipais de 2024, trabalhei como coordenador de conteúdo do plano de governo do candidato Tiago Amaral, que se elegeu prefeito de Londrina, a segunda maior cidade do Paraná.
A missão foi dialogar com especialistas de diversas áreas, compilar dados e cuidar da redação final do conjunto de propostas.
Trabalhei ao lado de um servidor aposentado que atuou por mais de 35 anos na Prefeitura de Londrina. Profundo conhecedor da máquina pública local, ele dominava dados, números, leis, estruturas, fluxos e sabia a quem recorrer quando algo não estava claro.
Como nasceu o plano de governo de Tiago Amaral
Ao longo do processo, participamos de reuniões com técnicos, especialistas, servidores públicos, vereadores, pré-candidatos, lideranças comunitárias e de entidades de classe, um ex-prefeito e pessoas do povo, além da interação constante com o próprio candidato e do acesso a opiniões colhidas em uma pesquisa qualitativa realizada com grupos de moradores da cidade.
Escutamos com atenção, registramos contribuições vindas da base e organizamos uma quantidade imensa de informações. Foi a partir desse conjunto de dados e ideias que escrevi o conteúdo do plano.
E é com base nessa experiência concreta que compartilho aqui uma metodologia replicável, que pode ajudar outros profissionais, candidatos e equipes a criarem planos de governo claros, organizados e estratégicos para as Eleições 2026.
Diagnóstico: o ponto de partida
Já conversamos muito sobre isso aqui no blog: todo plano de governo sério começa com escuta. Antes de escrever, é preciso, em primeiro lugar, ouvir técnicos, profissionais que atuam na ponta, lideranças políticas e comunitárias, além da população que vive os efeitos das políticas públicas no dia a dia. Essa escuta estruturada permite construir um diagnóstico claro e realista, ponto de partida para qualquer proposta consistente.
O diagnóstico cumpre várias funções estratégicas ao identificar:
- Gargalos da gestão
- Desafios estruturais
- Oportunidades concretas de transformação
Também ajuda a contextualizar o momento político, social e institucional do próximo mandato, conectando o plano à realidade, bem como orientando as ações futuras.
No plano de governo de Tiago Amaral, por exemplo, o diagnóstico destacou que o próximo prefeito de Londrina teria o desafio de revisar diversos planos municipais que expiram entre 2025 e 2026. Deixamos claro que isso exigiria um líder com visão estratégica e capacidade de articulação. O objetivo foi situar o leitor e mostrar que o plano não é apenas um conjunto de promessas, mas uma resposta concreta ao “espírito do tempo”.

De cinco eixos para três: menos é mais
No início do processo, minha ideia era organizar o plano em cinco eixos estratégicos, inspirado na estrutura consagrada do plano de governo de Fernando Henrique Cardoso em 1994.
No entanto, durante a escrita e revisão do texto, optei por condensar tudo em três grandes eixos, que funcionam como guarda-chuvas temáticos sob os quais as áreas e propostas foram abrigadas.
Essa mudança teve um motivo claro: permitir uma visão mais ampla e objetiva do conteúdo, facilitando a leitura e a compreensão. Em vez de uma fragmentação temática, tivemos integração e clareza.
Uma composição assim pode ser especialmente útil para candidatos a governador ou presidente, que lidam com uma diversidade ainda maior de áreas e precisam comunicar com precisão uma agenda ampla e complexa.
Os três eixos: estrutura replicável
- Amor pela nossa gente
Abrangendo Saúde, Educação, Desenvolvimento Social, Segurança Pública e Cultura. - Londrina eficiente
Tratando de Gestão da Cidade, Obras, Mobilidade Urbana, Centro Vivo, Zelo pela Cidade, Revisão dos Planos Municipais, Combate à Corrupção, Transparência Pública, Meio Ambiente, Esporte e Lazer e Cuidado com os Animais. - Crescimento para todos
Reunindo Indústria, Turismo, Qualificação Profissional, Comércio e Serviços, Tecnologia e Inovação e Agro.
Esse tipo de organização temática, com nomes simbólicos e compreensíveis, serve tanto para orientar o conteúdo quanto para se comunicar com o eleitor. Ela pode ser adaptada para planos estaduais ou nacionais, ajustando a abrangência, mas mantendo o princípio de síntese e coerência.
Organização que dá forma e sentido às propostas
Para facilitar a compreensão, a organização das propostas procurou ser lógica, com subdivisões quando necessário, sempre com o cuidado de manter cada item claro, acessível e bem estruturado. Muitas proposições foram distribuídas em subtópicos dentro de uma área maior, como ocorreu na saúde, com categorias como Cuidados Básicos, Cuidados Especializados, Saúde da Mulher, Saúde do Homem, Saúde Mental, entre outras.
É uma construção que facilita a leitura e reforça que cada proposta segue uma lógica de planejamento consistente, o que é indispensável em qualquer plano, especialmente para governador e presidente, cargos executivos em disputa nas Eleições 2026.

A redação: clareza, contexto e conexão
■ Texto de abertura:
Antes de falar em propostas, é preciso tocar as pessoas. Por isso, na abertura do plano, fugindo de uma apresentação genérica ou burocrática, escrevi uma espécie de manifesto da candidatura, numa linha mais emocional.
O que esse texto representa?
- Uma carta de identidade da candidatura
Expressões como “nós somos esta terra vermelha” ativam pertencimento e vínculos afetivos com a cidade e sua história. - Um chamado ao futuro com pé na realidade
O texto articula urgência, esperança e responsabilidade, três sentimentos poderosos em campanhas eleitorais. - Uma crítica educada à gestão que se encerrava
Sem recorrer a ataques, o manifesto inicial levanta perguntas retóricas que evidenciam problemas da cidade, relativos a formação de jovens, desigualdade social, qualidade do ensino e sofrimento das famílias. Isso prepara o leitor para entender o plano como uma resposta concreta aos impasses levantados. - Uma visão de governo orientada por propósito e escuta
Ao ressaltar que o plano foi construído ouvindo a população, o texto reforça que se trata de uma proposta ancorada na realidade e legitimada pelo diálogo. Isso confere credibilidade e coerência à promessa de futuro.
Esse tipo de abertura não é um mero texto introdutório. É uma peça estratégica de comunicação política, que transforma o plano em narrativa, apresenta o candidato como liderança com propósito e insere o eleitor como parte dessa construção. Para qualquer plano de governo, especialmente nas Eleições 2026, iniciar com um manifesto claro, humanizado e bem escrito pode ser a diferença entre um plano que engaja e um que ninguém lê.
■ Propostas:
Linguagem com clareza, foco e vínculo emocional:
Na redação das propostas, uma das preocupações foi adotar linguagem acessível, mas sem perda de densidade. A construção das frases foi pensada para ser compreendida por quem estudou até o ensino fundamental. Porém, manteve a credibilidade técnica necessária para dialogar com especialistas e formadores de opinião.
Cada proposta foi escrita partindo de três pontos:
- Problema concreto
- O que será feito
- Impacto na vida das pessoas
Além disso, outro ponto importante foi incluir frases de conexão com o eleitor. Exemplo: “Nossas crianças precisam de CARINHO” (acrônimo para Centro de Atendimento de Referência Infantil Humanizado), no capítulo sobre saúde infantil. Ou “Imagine uma Londrina onde cada cidadão pode caminhar livremente, a qualquer hora e em qualquer lugar, sem o peso do medo”, no eixo da segurança pública. É o tipo de recurso simples que dá ao plano, de fato, uma fluidez que documentos políticos não costumam ter.

Visão sistêmica e integração entre áreas
A redação também contemplou a visão sistêmica da gestão pública. Ou seja, mostrou que as áreas se conectam. A política de inclusão, por exemplo, não depende apenas da educação, mas também da saúde e da assistência. O desenvolvimento econômico precisa andar junto com infraestrutura, meio ambiente e qualificação profissional.
No caso de estados e da União, isso se torna ainda mais complexo e é essencial que seja bem articulado no plano.
■ Texto final:
A conclusão do plano foi redigida para reforçar a ideia de que aquilo tudo não é apenas um documento para cumprir exigência legal, mas sim um projeto de futuro com base real.
No encerramento, é fundamental que o texto reconecte o leitor/eleitor com o espírito do plano e reafirme o compromisso do candidato com a transformação da realidade, bem como convide as pessoas a participar dessa construção.
Resumo prático da metodologia aplicada
Embora seja um plano para uma eleição municipal de uma cidade específica, o roteiro que seguimos é altamente replicável na elaboração de planos para outros municípios, estados e eleição para o governo federal:

Em resumo: por que esse modelo funciona nas Eleições 2026
Candidatos a governador ou presidente terão, em 2026, o desafio de apresentar ao TSE e aos eleitores planos de governo robustos. Desse modo, mais do que cumprir uma obrigação formal, esses documentos podem e devem ser ferramentas estratégicas para construir credibilidade política, identidade de projeto e vínculo real com a população.
O modelo adotado no plano de governo de Tiago Amaral é uma prova viva disso. Estruturado com base em escuta ativa, diagnóstico realista e uma redação acessível, o plano apresentou de forma clara os compromissos e o preparo do candidato. Como resultado, contribuiu diretamente para a vitória eleitoral em Londrina.
Essa experiência mostra que um plano bem feito pode se tornar uma poderosa alavanca de convencimento e mobilização.
A chave está em combinar:
- Escuta ativa e construção coletiva
- Diagnóstico fundamentado na realidade
- Redação clara, direta e compreensível
- Organização temática estratégica
- Propostas concretas, viáveis e conectadas à vida real
- Visão de futuro com coerência e propósito
Com esses elementos, toda candidatura pode apresentar um plano que seja, ao mesmo tempo, instrumento de campanha e base sólida para a futura gestão. Porque quem pretende governar uma cidade, um estado ou o país precisa mostrar, desde o começo, que sabe o que está fazendo e como vai fazer.



