Aplicar a lógica de Maquiavel no plano de governo pode ser uma vantagem estratégica para uma candidatura competitiva!
Mais do que um teórico do poder, Nicolau Maquiavel foi um observador atento da política real. E esse mesmo olhar pragmático é essencial para gerar um plano de governo capaz de unir aliados, dialogar com o eleitor e conquistar votos.
Neste artigo, vamos conversar sobre como o pensamento de Maquiavel pode ajudar na construção de um plano de governo forte e vitorioso. A base são alguns trechos do livro que me chamaram a atenção e sublinhei quando o li.
Antes de mais nada, é bom deixar claro: inspirar-se em Maquiavel no plano de governo não significa adotar uma visão cínica ou manipuladora. Pelo contrário, é uma provocação útil sobre como planejar a conquista e a manutenção do poder com inteligência, escuta e direção.
Quem foi Maquiavel e por que O Príncipe é tão citado até hoje?
Nicolau Maquiavel foi um filósofo e pensador político nascido em Florença, no século XV. Testemunhou guerras, quedas de regimes, traições e alianças. Após ser expulso da vida pública pelos Médici, caiu no ostracismo. Foi quando em 1513 escreveu O Príncipe, um guia direto e realista sobre como conquistar, manter e exercer o poder.
Publicado apenas em 1532, cinco anos após a morte de Maquiavel, o livro ganhou fama por sua franqueza. Em vez de idealizar governantes perfeitos, justos, honestos e virtuosos, Maquiavel partiu da realidade: o que os líderes fazem, não o que deveriam fazer.
E é justamente essa visão pragmática que mantém a atualidade de O Príncipe. Ele mostra que governar exige leitura do contexto, capacidade de adaptação, clareza de propósito e habilidade para lidar com aliados e adversários. E, vejam só, essas mesmas qualidades são cruciais no processo de construção de um plano de governo!
E se Maquiavel estivesse organizando o trabalho da equipe do plano de governo?
Vamos voar, como diria Glória Perez… Imagine que Maquiavel fosse convidado para integrar a equipe de elaboração de um plano de governo nas eleições brasileiras de 2026. A partir do que ele disse no livro O Príncipe, extraímos algumas lições que, em primeiro lugar, podem nos ajudar a organizar o processo de criação de um bom plano de governo:
■ “A primeira observação que se faz da inteligência de um senhor resulta da análise dos homens que o cercam; quando são capazes e fiéis, sempre se pode considerá-lo sábio, porque soube reconhecer a sua competência e conservá-los ao seu lado.”
A escolha da equipe de elaboração do plano é reveladora. Um candidato que se cerca de pessoas competentes, plurais, críticas e propositivas, demonstra sabedoria e preparo. O plano de governo começa na escolha do time.
Por isso, é correto imaginar que o primeiro gesto de Maquiavel seria montar uma equipe à altura do desafio. Ele escolheria gente capaz de ouvir a população, interpretar dados, entender o cenário político, formular propostas viáveis e manter a coerência do projeto. Um time que alinha técnica e estratégia, lealdade e competência, como se espera de quem deseja vencer a eleição e governar com seriedade.
■ “Aquele que menos se apoiou na sorte reteve o poder mais seguramente.”
A partir de Maquiavel, aprendemos que o poder não se conquista nem se mantém contando apenas com a sorte. Quem depende de circunstâncias favoráveis ou da onda do momento vive em permanente instabilidade.
Então, é preciso conhecer bem o terreno que se pisa, começando pelo diagnóstico:
- Ouvir a população
- Analisar cenários
- Investigar dados
- Conhecer as estruturas de governo
- Entender as limitações orçamentárias
- Saber quais são as capacidades reais de execução
Sem isso, o plano de governo não tem lastro e o candidato contará apenas com a própria sorte, o que o torna sujeito a receber aquele carimbo desagradável em sua foto no DivulgaCand: “não eleito”.
Em suma, campanhas bem preparadas constroem sua própria sorte com método, escuta qualificada, articulação política e direção estratégica. E um plano de governo consistente é o ponto de partida dessa construção.
■ “Creio ser feliz aquele que adapta seu modo de proceder à natureza dos tempos, da mesma forma que penso ser infeliz aquele que, com o seu proceder, entre em choque direto com o momento atual.”
Um plano de governo e, por consequência, uma estratégia eleitoral encontram as melhores condições para conduzir um projeto político vitorioso quando dão respostas concretas ao espírito do tempo. Sabe aquele ditado sobre ser “a pessoa certa, na hora certa”? É ser a pessoa que entende o momento com clareza. Por isso, Maquiavel colocaria no centro da elaboração do plano de governo a leitura precisa do cenário político, social e cultural em que a eleição acontece.
Assim, um plano conectado com o momento presente:
- Reconhece as angústias mais urgentes da população
- Identifica os temas que dominam o debate público
- Compreende se é momento de mudança ou continuidade
- Adota um caminho capaz de gerar conexão real com o eleitor
E se Maquiavel estivesse escrevendo o plano de governo?
Depois de organizar a equipe e dimensionar o diagnóstico, imaginemos Maquiavel sentado à mesa onde o plano começa a ganhar forma. Agora, o trabalho é transformar o arsenal de informações obtidas no diagnóstico em propostas que convençam o eleitor, além de sustentar a imagem do candidato e atrair aliados. Eis algumas lições úteis de Maquiavel para este momento:
■ “Os homens, com satisfação, mudam de senhor pensando em melhorar de vida.”
Maquiavel reconhecia algo que continua atual: a maioria das pessoas decide o voto com base naquilo que promete melhorar sua vida concreta. Ou seja, quando acreditam que terão algo a ganhar.
Portanto, quem quer conquistar o poder precisa entender esse movimento emocional. As pessoas votam por esperança de mudar para melhor, por uma oportunidade concreta de avanço, mesmo quando votam pela continuidade. Desse modo, o plano de governo precisa apresentar uma proposta de melhora concreta e perceptível.
■ “Todos veem o que você aparenta ser…”
Conforme Maquiavel, a percepção vale tanto quanto a realidade, especialmente na política. Afinal, o eleitor julga pelo que vê. Por isso, um plano de governo é, também, uma peça de imagem. Precisa ter clareza, coerência e força simbólica no tom do texto, na forma como as ideias são organizadas e na maneira como os compromissos se alinham à imagem do candidato. Nesse sentido, usar Maquiavel no plano de governo é pensar também na forma como o plano será percebido: pelo seu conteúdo técnico e, ainda, como peça estratégica de comunicação e construção de imagem pública.
■ “Sempre que tenha boas armas terá bons amigos.”
Essa frase é simbólica. “Armas”, aqui, significam ferramentas reais de sustentação do poder, o que, no contexto do plano de governo, podemos traduzir como:
- Boas ideias
- Dados sólidos
- Propostas executáveis
- Argumentos que inspirem confiança
Ou seja, o plano se torna arma política quando tem substância. E amigos políticos, no sentido “maquiavélico”, surgem onde há direção clara, projeto bem estruturado e coragem para sustentar aquilo que se propõe.
Em resumo: usar Maquiavel no plano de governo é um bom modo de planejar a vitória
A gente sabe muito bem que o nome de Maquiavel carrega controvérsias. O Príncipe, sua obra mais famosa, desperta polêmica desde o século XVI, por defender que a política não deve seguir apenas princípios morais. O livro sugere que o governante, para manter o poder e garantir a estabilidade do Estado, deve estar disposto a tomar decisões duras, parecer virtuoso mesmo quando não o for e até mesmo usar a religião como instrumento político… É por isso que, ao longo do tempo, muitos passaram a associar Maquiavel à dissimulação, à frieza e ao autoritarismo.
Mas é importante deixar claro: este artigo está longe de defender qualquer visão cínica ou manipuladora no plano de governo. Pelo contrário. O que defendemos aqui é que todo plano precisa ter clareza, direção e utilidade. O pensamento de Maquiavel balizando o plano de governo pode ser, sim, uma inspiração positiva. Porque nos ensina que vencer eleições exige método, escuta, inteligência estratégica e, acima de tudo, coragem para fazer o que precisa ser feito.



