Fotografia ultra-realista em formato paisagem mostra dezenas de lâmpadas apagadas sobre um fundo em degradê azul, indo do azul claro ao azul cobalto. Entre elas, uma única lâmpada acesa em tom incandescente alaranjado se destaca, simbolizando criatividade no plano de governo.

Criatividade no plano de governo: como ter boas ideias para conquistar votos

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José Roberto Martins

Jornalista e Especialista em Comunicação Governamental e Marketing Político | IDP Brasília

Lições da arte e técnicas criativas estimulam o pensamento na construção de propostas para tocar o coração do eleitor.

Criatividade no plano de governo não é um luxo: é uma necessidade. E não estamos falando de pirotecnia ou frases de efeito. O que está em foco é a capacidade de olhar para os problemas da população e enxergar soluções relevantes, viáveis e originais, daquelas que fazem o eleitor parar, prestar atenção e pensar: “essa proposta me representa.”

Portanto, saber como ter boas ideias para o plano de governo é um dos principais diferenciais competitivos numa eleição. Boas ideias constroem propostas com força eleitoral. E propostas com força eleitoral abrem caminho para a vitória.

Mas como chegar lá? Onde nascem essas boas ideias?

Boas ideias não caem do céu: elas são construídas

Antes de mais nada, é preciso abandonar o mito da ideia mágica, repentina, que desce dos céus num lampejo divino. Até mesmo os maiores artistas sabem que nem sempre é assim. Chico Buarque foi direto:

“Sou um bom artesão. Trabalho bem com as palavras. Só que às vezes vem um lampejo, uma ideia luminosa – e esse lance eu não domino. Por esse eu não respondo. Respondo pelo artesanato, tenho consciência do meu potencial. Mas os momentos mágicos – estes me surpreendem.”

No contexto de um plano de governo, não esperar a ideia genial cair do céu se traduz em método, escuta, repertório e compromisso com a realidade. Criatividade no plano de governo até pode nascer de repente, mas, na maioria das vezes, assim como na arte, é fruto de suor. Tom Jobim, sempre brilhante, também sabia disso, quando parafraseou Thomas Edison:

“Tem aquele que diz: música é um produto de 5% de inspiração e 95% de transpiração. É verdade.”

Essa verdade vale também para a ideação de um plano de governo.

Como a criatividade funciona e por que ela importa no plano de governo?

Muita gente pensa em criatividade como um dom natural: “fulano é criativo”, “beltrana tem ideias geniais”. De fato, às vezes a inspiração surge de repente, como Chico Buarque comentou. Mas, na maioria das vezes, a criatividade depende de bagagem: conhecimento acumulado, estudo, repertório cultural e até do ambiente em que a pessoa vive. Ou seja, a ideia criativa nasce do pensamento, mas é alimentada pela experiência e pelo trabalho.

Quando trazemos isso para a prática, percebemos que a criatividade pode ser organizada em etapas claras. Existem métodos que ajudam a transformar inspiração em proposta. Todo processo criativo passa por alguns passos (e isso tem tudo a ver com Design Thinking, que já estudamos anteriormente neste artigo):

  1. Definir o problema com clareza
  2. Gerar alternativas livremente, sem censura antecipada
  3. Avaliar e selecionar com base na viabilidade e impacto
  4. Implementar soluções de forma estratégica

Esse modelo é simples e poderoso. Um plano de governo que respeita essa lógica tende a propor medidas mais coerentes, ousadas e realizáveis, em vez de papagaiar promessas vazias.

Aliás, o maior erro de quem fracassa é focar direto na solução, sem entender o problema (isso é muito comum no nosso meio do marketing político, infelizmente). Criatividade no plano de governo (e na criação em geral) começa com o problema bem formulado.

Cinco atitudes que despertam a criatividade na elaboração do plano de governo

Como estamos vendo, criatividade também é comportamento. Então, eis algumas atitudes que impulsionam o pensamento criativo e que servem muito bem para quem vai elaborar um plano de governo:

1. Persistência:

Boas ideias não aparecem na primeira tentativa. É comum que os primeiros rascunhos sejam frágeis ou pouco originais. Persistir significa voltar ao problema várias vezes, lapidar a proposta, testar diferentes ângulos. Na elaboração do plano de governo, insistir pode ser o que transforma um simples esboço em políticas públicas consistentes.

2. Curiosidade:

Investigar além do óbvio é uma das chaves para encontrar soluções criativas. Isso significa conversar com públicos diversos, explorar experiências de outras cidades, estados e países e perguntar: “e se fosse diferente?”. A curiosidade abre portas!

3. Inconformismo

Aceitar que “sempre foi assim” é o maior inimigo da inovação. A criatividade no plano de governo também nasce do inconformismo com problemas antigos e mal resolvidos. Questionar práticas enraizadas é um passo crucial para propor caminhos novos.

4. Atenção aos detalhes

Grandes ideias às vezes estão em coisas comuns do cotidiano. Basta observar melhor. Já que estamos citando artistas, vale lembrar o que cantaram os Titãs: “as ideias estão no chão, você tropeça e acha a solução”. Ou seja, tem que saber olhar o que já não é mais notado porque faz parte da “paisagem”!

5. Originalidade com responsabilidade

Ser criativo é saber combinar ousadia e realismo. Uma proposta só é original de verdade se puder ser explicada de forma clara, tiver base sólida e for viável. Criatividade no plano de governo exige equilíbrio: propor algo novo, mas que caiba no orçamento, no tempo de gestão e na vida das pessoas.

Quatro exercícios de criatividade para usar no plano de governo

Durante o processo de elaboração do plano de governo, algumas ferramentas podem ajudar muito a sair da mesmice, estimular ideias diferentes e organizar o pensamento de forma produtiva. Essas ferramentas vêm de diferentes estudos da criatividade e da resolução de problemas e foram consolidadas em áreas como administração, design, psicologia cognitiva e gestão da qualidade:

1. Mapas mentais

São diagramas visuais que partem de uma ideia central (por exemplo, “educação”) e se desdobram em ramificações como infraestrutura, formação de professores, inclusão, tecnologia etc. Essa técnica permite enxergar o todo e encontrar conexões inesperadas entre áreas diferentes da gestão pública.

2. Técnica dos 5 porquês

Consiste em fazer a pergunta “por quê?” cinco vezes seguidas, a partir de um problema. Isso ajuda a chegar na raiz. Exemplo:

Fluxograma em design contemporâneo, com fundo azul e caixas amarelas, ilustra a técnica dos 5 porquês aplicada à educação. O texto mostra: “Os alunos faltam muito às aulas” → “Por quê?” → “Porque não se sentem motivados” → “Por quê?” → “Porque as aulas são desinteressantes...”. A imagem simboliza criatividade no plano de governo ao buscar causas profundas para propor soluções claras.

E assim por diante, até que, ao final, você entenda o núcleo real do problema. Criatividade no plano de governo é investigar além do óbvio, buscando a causa raiz para propor soluções eficazes.

3. Mudança de ambiente

Alterar o local ou a dinâmica de trabalho pode destravar pensamentos. Trocar a sala de reunião tradicional por uma visita de campo, por exemplo, ou fazer um brainstorm num lugar inusitado, pode ajudar a sair do modo automático e abrir espaço para ideias novas.

4. Repertório cruzado

Consiste em buscar referências fora da política tradicional (no design, na arte, na ciência, na música – como estamos fazendo neste artigo! – ou até na natureza) para inspirar soluções criativas. Muitas vezes, uma ideia vinda de um universo diferente pode ser adaptada com sucesso para resolver um problema público.

Com essas práticas, ideias geniais surgirão na primeira tentativa? Não necessariamente. Mas agir assim aumenta muito as chances de que boas ideias surjam, cresçam e ganhem forma com coerência e originalidade.

Quem domina a linguagem entrega resultado

Política também é linguagem. A linguagem é o meio que transforma uma ideia em algo que o eleitor entende, sente e acredita. Um plano de governo pode ter dados perfeitos, mas não gera conexão se estiver escrito de maneira fria, hermética ou distante. Em contrapartida, com uma linguagem clara, próxima e direta, o plano de governo se torna um instrumento poderoso de mobilização.

Lembrando que linguagem também vai além do improviso. Ela precisa ser exercitada, testada e refinada. Voltemos aos nossos artistas! O cantor e compositor Geraldo Vandré afirmou:

“Sou um profissional de comunicação. Posso garantir que se você me pedir uma canção de amor, eu te dou uma canção de amor amanhã, tão boa ou melhor que todas que fiz.”

O significado disso é que é possível entregar o que se pede com qualidade e propósito se, entre outras coisas, você souber manejar a linguagem. É algo que exige exercício permanente, com disciplina. Da mesma forma, escrever um plano de governo depende de:

  • Domínio da linguagem técnica e política, para estruturar propostas consistentes e viáveis
  • Sensibilidade para traduzir essas propostas em mensagens claras e mobilizadoras, que toquem a mente e o coração das pessoas
  • Disciplina para organizar tudo em um texto coeso, que una clareza, emoção e argumentação sólida, convincente a ponto de conquistar o voto do eleitor

Acima de tudo, um plano de governo bem escrito coloca clareza, técnica e disciplina a serviço da conexão com a vida das pessoas. Como resultado, pavimenta o caminho que conduz à vitória.

Em resumo: criatividade como ponto essencial no plano de governo

Parece maluquice falar em Chico Buarque, Tom Jobim e Geraldo Vandré num site sobre plano de governo… Mas o que esses grandes nomes disseram sobre criatividade no campo da arte são pontos que podem ser transpostos para o nosso contexto. Não é todo dia que grandes ideias surgem num passe de mágica. Mas é possível chegar a elas com suor! Ou seja, com disciplina, estudo, trabalho e domínio da linguagem. Essa lógica se aplica diretamente à elaboração de um plano de governo.

Criatividade é ponto essencial: é com ela que olhamos para um problema e enxergamos uma solução viável. Essa solução pode ser totalmente inédita, nunca aplicada naquela cidade, estado ou mesmo no país, ou pode ser uma adaptação criativa de algo que funcionou bem em outro lugar. Em ambos os casos, a chave está no olhar apurado que transforma problemas em propostas claras e mobilizadoras.

E isso é uma das coisas que fazem uma campanha se tornar uma jornada de confiança, capaz de conquistar corações e mentes dos eleitores e, finalmente, abrir o caminho para a vitória nas urnas.