Entenda por que essa conversa reservada é uma das ferramentas mais importantes da pré-campanha.
Este é o segundo artigo da série sobre entrevistas com o candidato na construção do plano de governo. O primeiro texto foi um panorama geral sobre a importância de ouvir o próprio candidato para que o plano tenha a cara dele, com coerência entre o que ele viveu, o que acredita, o que defende e o que promete.
Agora, vamos entrar em métodos específicos. Neste artigo, nosso assunto é a entrevista em profundidade, uma conversa reservada, que ajuda a enxergar com clareza quem é o candidato. Com ela, entendemos suas forças, seus dilemas, seus aprendizados e até suas fragilidades.
Nessa escuta, surgem elementos valiosos para a construção de um plano de governo com identidade real, sem aquele tom de voz genérico, que serviria pra qualquer concorrente.
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O que é entrevista em profundidade e para que ela serve?
A entrevista em profundidade é uma das técnicas utilizadas para a pesquisa qualitativa. Ela ajuda a compreender sentimentos, contextos e motivações com mais cuidado e atenção aos detalhes. Não é pra ser um interrogatório. É uma conversa conduzida com escuta ativa, roteiro flexível e abertura para o entrevistado falar no próprio ritmo.
No contexto político-eleitoral, essa entrevista tem duas finalidades centrais:
- Ajuda a construir um plano de governo coerente com a trajetória, o pensamento e a linguagem do candidato.
- Levanta com antecedência tudo o que precisa estar no radar estratégico da campanha, inclusive os pontos que exigem cautela, blindagem ou preparação específica.
Mais do que montar um histórico, o objetivo é entender, acima de tudo, o que o candidato considera importante, do que ele tem orgulho, o que ele evita contar, o que ele já enfrentou e como isso moldou sua forma de ver a política e a gestão pública.
Essa escuta permite acessar quem é de verdade o candidato e até onde ele pode ir sem se perder.
Por que fazer a entrevista em profundidade com o candidato?
Aplicar a entrevista em profundidade com o candidato ajuda a:
- Aprofundar o diagnóstico político e emocional da candidatura: entender como o candidato lida com conflitos, como enxerga seus próprios erros e acertos e o que o move de verdade. Isso ajuda a definir o tom da campanha.
- Mapear riscos e pontos sensíveis que possam surgir ao longo da disputa: mapear episódios da vida pessoal ou pública que, se não forem identificados a tempo, podem gerar crises. Aqui entram temas como polêmicas antigas, contradições públicas, comportamentos passados e zonas de atrito que exigem cuidado estratégico.
- Descobrir histórias reais que trazem humanidade ao discurso: trajetórias, experiências marcantes, frases espontâneas e lembranças familiares que possam ser usadas com sensibilidade para criar conexão com o eleitorado.
- Definir com clareza o que pode e o que não deve entrar no plano ou no discurso da campanha: nem tudo precisa estar no papel, porém tudo precisa estar no radar. A entrevista em profundidade ajuda a separar uma coisa da outra.
Como deve ser feita a entrevista em profundidade com o candidato?
Antes de mais nada, a entrevista em profundidade trata-se de uma conversa confidencial, cuja condução deve ser por alguém da confiança do candidato, com escuta atenta e sem julgamentos.
Deixando bem claro: essa entrevista deve ser sigilosa.
De preferência, feita apenas entre o estrategista da campanha (ou alguém de confiança máxima) e o próprio candidato, sem a presença de assessores e sem que outras pessoas sequer saibam que ela vai acontecer.
O motivo é simples: quanto menos gente souber e quanto menor for o público, maior a sinceridade. O candidato precisa se sentir à vontade para falar de tudo. Inclusive sobre episódios delicados, erros do passado, crises pessoais e contradições políticas. Muita gente junto pode inibir ou causar constrangimento. E, pior ainda, pode alimentar fofoca e gerar risco de vazamento.
O ideal é que a entrevista em profundidade não seja gravada.
Anotações são bem-vindas, mas o foco deve estar no vínculo, não no registro. O importante aqui não é gerar conteúdo. É gerar confiança, interpretação e estratégia.
O ambiente também faz diferença.
Deve ser uma conversa presencial, num espaço tranquilo, longe do celular e das interrupções.
O que perguntar na entrevista em profundidade?
A entrevista em profundidade com o candidato pode abordar temas como:
- Infância e juventude
- Momentos mais difíceis da vida
- Perdas que mais o marcaram
- Decisões mais importantes que já tomou
- Pessoas que mais o influenciaram
- Conflitos com adversários, imprensa ou até aliados
- Processos judiciais, condenações anteriores ou fatos polêmicos da vida pública ou particular que possam vir à tona durante a campanha
- Mudanças de opinião ao longo da trajetória
- O que ele faria diferente, se pudesse voltar no tempo
- O que ele quer deixar como legado
Essas respostas ajudam a traçar um mapa emocional e político do candidato, para orientar as decisões sobre conteúdo, discurso e, claro, sobre o próprio plano de governo.
O plano de governo ganha muito com a entrevista em profundidade
Quando a entrevista em profundidade com o candidato é bem conduzida, o plano de governo tem, como resultado, uma força a mais para refletir o modo de pensar, o jeito de falar, o estilo de liderar e os valores que o candidato carrega.
Além disso, o conjunto de propostas ganha refinamento para exercer papel estratégico na campanha:
- Organiza o discurso
- Embasa o conteúdo
- Fortalece a narrativa
- Gera confiança no eleitorado
Portanto, a entrevista em profundidade com o candidato é essencial para traçar o perfil completo dele, embasar o tom do plano de governo e montar a estratégia da campanha com segurança.
Em resumo
Ao longo deste artigo, focamos no uso da entrevista em profundidade para orientar a construção do plano de governo. Porém, vale reforçar: essa técnica é uma etapa obrigatória do planejamento eleitoral, indispensável para desenhar a estratégia da campanha como um todo. Saber quem é o candidato em profundidade e com antecedência é uma forma de evitar sustos, preparar “vacinas”, alinhar discurso e agir com inteligência política.



