Um olhar sobre como estruturar e comunicar um plano de governo de continuidade – e o que isso ensina para as Eleições 2026.
Em 2024, eleitores de 18 capitais brasileiras escolheram candidatos que apresentaram um plano de governo de continuidade: Belo Horizonte, Boa Vista, Campo Grande, Curitiba, Florianópolis, João Pessoa, Macapá, Maceió, Manaus, Natal, Porto Alegre, Recife, Rio Branco, Rio de Janeiro, Salvador, São Luís, São Paulo e Vitória.
Em 16 dessas cidades, os prefeitos foram reeleitos. Nas outras duas, Curitiba e Natal, venceram candidatos que se comprometeram a dar sequência ao legado do gestor anterior. Esse cenário mostra a princípio que, quando reconhece resultados concretos, a população tende a valorizar a permanência.
Mas o que havia em comum nesses planos de governo de continuidade nas capitais? Quais elementos ajudaram a transformar o passado em argumento para o futuro? E, principalmente, como essas estratégias podem servir de inspiração para campanhas nacionais e estaduais nas Eleições 2026?
É sobre isso que vamos conversar neste artigo!
Legado como argumento central
Um plano de governo de continuidade opera sob uma lógica distinta do plano de uma candidatura de oposição: o sucesso passado é o principal argumento para a gestão futura. Ou seja, nada de mudança. Nesse sentido, em 2024, prefeitos reeleitos e candidatos que venceram apoiados pela gestão vigente construíram seus documentos como uma ponte entre resultados entregues e novas promessas. Veja alguns exemplos:
- Belo Horizonte: Fuad Noman abriu o plano com um inventário de realizações “que demonstram nossa capacidade de gestão e de entrega para a cidade”.
- Rio Branco: Tião Bocalom apresentou uma “prestação de contas sobre a situação precária de como encontramos a Prefeitura de Rio Branco em 2021, e de tudo aquilo que realizamos até este momento”.
- Boa Vista: Arthur Henrique afirmou: “Nós entregamos para a população não só aquilo que é possível, mas aquilo que é o melhor”.
- Macapá: Dr. Furlan destacou uma cidade em transformação, apresentando o plano como síntese dos desejos coletivos e símbolo de orgulho.
Essa estratégia legitimou o discurso de que a continuidade não é promessa vazia, mas extensão natural do trabalho já realizado.
Linguagem e discurso de continuidade
A linguagem usada nos planos reforçou a ideia de evolução com estabilidade. Eduardo Paes, no Rio de Janeiro, por exemplo, estruturou seus objetivos com o verbo “seguir”, que aparece oito vezes. Ao passo que David Almeida, de Manaus, prometeu um segundo mandato melhor “graças à experiência acumulada”.
Em suma, os candidatos combinaram firmeza e empatia: transmitiram segurança ao falar de resultados já entregues e, ao mesmo tempo, reconheceram desafios em andamento:
- Maceió: JHC afirmou que a cidade não só avançou, mas recuperou a autoestima.
- João Pessoa: Cícero Lucena destacou “realizações entregues e em andamento”.
- Porto Alegre: Sebastião Melo disse que a cidade “recuperou a esperança e olha com confiança para o futuro”.
- Natal: Paulinho Freire projetou a cidade como trampolim para o futuro, valorizando avanços recentes e apresentando meta a consolidar.
- São Luís: Eduardo Braide organizou o plano em três eixos, ressaltando o compromisso de “continuar avançando e melhorando sem parar”.
Essa escolha de linguagem reforçou a continuidade sobretudo como promessa de evolução segura.
Estrutura narrativa organizada
Grande parte dos planos de continuidade seguiu um padrão recorrente:
- Carta ou mensagem inicial com tom pessoal e celebratório.
- Bloco de realizações, funcionando como prestação de contas.
- Bloco de propostas, apresentando a continuidade como evolução do que já começou.
Esse modelo foi usado, por exemplo, por Bruno Reis em Salvador, Arthur Henrique em Boa Vista, Topázio Neto em Florianópolis e Cícero Lucena em João Pessoa.
Ao conectar passado, presente e futuro, o plano de governo de continuidade constrói uma narrativa coerente e convincente.
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Credibilidade com dados e validações externas
Outro pilar foi o uso de indicadores e reconhecimentos externos:
- Belo Horizonte: Fuad Noman destacou equilíbrio fiscal e capacidade de captar recursos.
- Recife: João Campos mostrou a queda na desigualdade e o maior ciclo de investimentos da cidade.
- Vitória: Lorenzo Pazolini citou o Prêmio de Melhor Gestão Pública do Brasil em 2023.
- Salvador: Bruno Reis celebrou a melhor gestão financeira entre capitais.
- Campo Grande: Adriane Lopes lembrou a certificação federal de governança e gestão.
- São Paulo: Ricardo Nunes apontou geração de 130 mil empregos formais e queda no desemprego.
Assim, o plano de governo de continuidade não se limitou a listar obras: transformou dados e prêmios em provas de competência.
Participação e institucionalização do diálogo
Outra característica válida para candidaturas de continuidade é mostrar que sua legitimidade política se ancora num processo estruturado de escuta da população, capaz de transformar as demandas e expectativas do eleitorado em propostas concretas:
- São Paulo: Ricardo Nunes destacou a plataforma “Fala Aí SP”, com milhares de participações.
- Curitiba: Eduardo Pimentel integrou ao plano propostas do “Fala Curitiba”.
- Natal: Paulinho Freire mencionou a escuta popular por meio dos encontros intitulados “Bora, Natal!”.
Esse processo mostra que sair do conforto do gabinete e ir ao encontro das pessoas transforma o plano de governo em algo maior do que uma formalidade: um instrumento de participação social genuína.
6 pontos que podem ser replicados nas Eleições 2026
A análise dos planos de governo de continuidade nas capitais aponta seis pontos replicáveis em campanhas nacionais e estaduais nas Eleições 2026:
- Abrir com conquistas concretas, respaldadas por dados e indicadores.
- Projetar metas de longo prazo, além do mandato.
- Adotar linguagem de estabilidade, com verbos como “seguir” e “ampliar”.
- Organizar o plano em narrativa clara, com carta inicial, realizações e propostas.
- Usar prêmios e validações externas para reforçar credibilidade.
- Estruturar participação popular, com plataformas digitais e encontros.

Em resumo: continuidade como promessa de evolução
Os planos de governo de continuidade nas capitais em 2024 mostraram principalmente que a permanência deve ser comunicada como evolução segura. Com legado valorizado, dados como prova e futuro projetado com clareza, o eleitor tende a confiar e (re)eleger.
Para as Eleições 2026, a lição é clara: quem tem entregas precisa mostrá-las, bem como transformar conquistas em narrativa e alinhar o próximo ciclo como avanço natural.
Este é o fundamento para a construção de uma campanha que vá além de prometer e demonstre, acima de tudo, já ter a capacidade de realizar, consolidando no eleitor a percepção de que a melhor escolha é seguir em frente.
FAQ – Perguntas frequentes sobre plano de governo de continuidade
- O que é um plano de governo de continuidade?
É o documento apresentado por candidatos à reeleição ou que representam a continuidade de um projeto político já em curso. Esse tipo de plano valoriza resultados anteriores e propõe o aperfeiçoamento das ações que deram certo.
- Como um plano de governo de continuidade se diferencia do plano da oposição?
Enquanto o plano da oposição parte da crítica à gestão vigente, o plano de continuidade se baseia no legado: usa dados, entregas e reconhecimentos para justificar a permanência.
- Quais elementos tornam um plano de governo de continuidade mais convincente?
Prestação de contas com resultados concretos, linguagem de estabilidade, validação externa (prêmios e indicadores) e participação popular estruturada.
- Por que estudar os planos de continuidade das capitais em 2024 é importante para 2026?
Porque eles mostram padrões replicáveis de narrativa, estrutura e comunicação, que podem orientar candidatos à Presidência e aos Governos Estaduais nas Eleições 2026.



