Mosaico de capas de plano de governo de continuidade nas capitais em 2024, com fotos dos candidatos reeleitos ou apoiados, nomes, partidos e slogans como “Seguir em frente”, “Trabalho que não para”, “Seguir avançando”, “É Natal pra frente” e “O bom trabalho tem que continuar”. A imagem reúne os materiais de Fuad Noman, Eduardo Pimentel, Topázio Neto, João Pessoa, Dr. Furlan, JHC, David Almeida, Paulinho Freire, Sebastião Melo, João Campos, Tião Bocalom, Eduardo Paes, Bruno Reis, Eduardo Braide, Ricardo Nunes, Eduardo Braide, Adriane Lopes e Arthur Henrique.

Plano de governo de continuidade: lições dos prefeitos governistas eleitos nas capitais em 2024

Foto de José Roberto Martins

José Roberto Martins

Jornalista e Especialista em Comunicação Governamental e Marketing Político | IDP Brasília

Um olhar sobre como estruturar e comunicar um plano de governo de continuidade – e o que isso ensina para as Eleições 2026.

Em 2024, eleitores de 18 capitais brasileiras escolheram candidatos que apresentaram um plano de governo de continuidade: Belo Horizonte, Boa Vista, Campo Grande, Curitiba, Florianópolis, João Pessoa, Macapá, Maceió, Manaus, Natal, Porto Alegre, Recife, Rio Branco, Rio de Janeiro, Salvador, São Luís, São Paulo e Vitória.

Em 16 dessas cidades, os prefeitos foram reeleitos. Nas outras duas, Curitiba e Natal, venceram candidatos que se comprometeram a dar sequência ao legado do gestor anterior. Esse cenário mostra a princípio que, quando reconhece resultados concretos, a população tende a valorizar a permanência.

Mas o que havia em comum nesses planos de governo de continuidade nas capitais? Quais elementos ajudaram a transformar o passado em argumento para o futuro? E, principalmente, como essas estratégias podem servir de inspiração para campanhas nacionais e estaduais nas Eleições 2026?

É sobre isso que vamos conversar neste artigo!

Legado como argumento central

Um plano de governo de continuidade opera sob uma lógica distinta do plano de uma candidatura de oposição: o sucesso passado é o principal argumento para a gestão futura. Ou seja, nada de mudança. Nesse sentido, em 2024, prefeitos reeleitos e candidatos que venceram apoiados pela gestão vigente construíram seus documentos como uma ponte entre resultados entregues e novas promessas. Veja alguns exemplos:

  • Belo Horizonte: Fuad Noman abriu o plano com um inventário de realizações “que demonstram nossa capacidade de gestão e de entrega para a cidade”.
  • Rio Branco: Tião Bocalom apresentou uma “prestação de contas sobre a situação precária de como encontramos a Prefeitura de Rio Branco em 2021, e de tudo aquilo que realizamos até este momento”.
  • Boa Vista: Arthur Henrique afirmou: “Nós entregamos para a população não só aquilo que é possível, mas aquilo que é o melhor”.
  • Macapá: Dr. Furlan destacou uma cidade em transformação, apresentando o plano como síntese dos desejos coletivos e símbolo de orgulho.

Essa estratégia legitimou o discurso de que a continuidade não é promessa vazia, mas extensão natural do trabalho já realizado.

Linguagem e discurso de continuidade

A linguagem usada nos planos reforçou a ideia de evolução com estabilidade. Eduardo Paes, no Rio de Janeiro, por exemplo, estruturou seus objetivos com o verbo “seguir”, que aparece oito vezes. Ao passo que David Almeida, de Manaus, prometeu um segundo mandato melhor “graças à experiência acumulada”.

Em suma, os candidatos combinaram firmeza e empatia: transmitiram segurança ao falar de resultados já entregues e, ao mesmo tempo, reconheceram desafios em andamento:

  • Maceió: JHC afirmou que a cidade não só avançou, mas recuperou a autoestima.
  • João Pessoa: Cícero Lucena destacou “realizações entregues e em andamento”.
  • Porto Alegre: Sebastião Melo disse que a cidade “recuperou a esperança e olha com confiança para o futuro”.
  • Natal: Paulinho Freire projetou a cidade como trampolim para o futuro, valorizando avanços recentes e apresentando meta a consolidar.
  • São Luís: Eduardo Braide organizou o plano em três eixos, ressaltando o compromisso de “continuar avançando e melhorando sem parar”.

Essa escolha de linguagem reforçou a continuidade sobretudo como promessa de evolução segura.

Estrutura narrativa organizada

Grande parte dos planos de continuidade seguiu um padrão recorrente:

  1. Carta ou mensagem inicial com tom pessoal e celebratório.
  2. Bloco de realizações, funcionando como prestação de contas.
  3. Bloco de propostas, apresentando a continuidade como evolução do que já começou.

Esse modelo foi usado, por exemplo, por Bruno Reis em Salvador, Arthur Henrique em Boa Vista, Topázio Neto em Florianópolis e Cícero Lucena em João Pessoa.

Ao conectar passado, presente e futuro, o plano de governo de continuidade constrói uma narrativa coerente e convincente.

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Credibilidade com dados e validações externas

Outro pilar foi o uso de indicadores e reconhecimentos externos:

  • Belo Horizonte: Fuad Noman destacou equilíbrio fiscal e capacidade de captar recursos.
  • Recife: João Campos mostrou a queda na desigualdade e o maior ciclo de investimentos da cidade.
  • Vitória: Lorenzo Pazolini citou o Prêmio de Melhor Gestão Pública do Brasil em 2023.
  • Salvador: Bruno Reis celebrou a melhor gestão financeira entre capitais.
  • Campo Grande: Adriane Lopes lembrou a certificação federal de governança e gestão.
  • São Paulo: Ricardo Nunes apontou geração de 130 mil empregos formais e queda no desemprego.

Assim, o plano de governo de continuidade não se limitou a listar obras: transformou dados e prêmios em provas de competência.

Participação e institucionalização do diálogo

Outra característica válida para candidaturas de continuidade é mostrar que sua legitimidade política se ancora num processo estruturado de escuta da população, capaz de transformar as demandas e expectativas do eleitorado em propostas concretas:

  • São Paulo: Ricardo Nunes destacou a plataforma “Fala Aí SP”, com milhares de participações.
  • Curitiba: Eduardo Pimentel integrou ao plano propostas do “Fala Curitiba”.
  • Natal: Paulinho Freire mencionou a escuta popular por meio dos encontros intitulados “Bora, Natal!”.

Esse processo mostra que sair do conforto do gabinete e ir ao encontro das pessoas transforma o plano de governo em algo maior do que uma formalidade: um instrumento de participação social genuína.

6 pontos que podem ser replicados nas Eleições 2026

A análise dos planos de governo de continuidade nas capitais aponta seis pontos replicáveis em campanhas nacionais e estaduais nas Eleições 2026:

  1. Abrir com conquistas concretas, respaldadas por dados e indicadores.
  2. Projetar metas de longo prazo, além do mandato.
  3. Adotar linguagem de estabilidade, com verbos como “seguir” e “ampliar”.
  4. Organizar o plano em narrativa clara, com carta inicial, realizações e propostas.
  5. Usar prêmios e validações externas para reforçar credibilidade.
  6. Estruturar participação popular, com plataformas digitais e encontros.
Plano de governo de continuidade nas capitais de Salvador e Macapá, com os prefeitos reeleitos Bruno Reis e Dr. Furlan, destacando os slogans “Pra Salvador seguir em frente” e “Pra Macapá seguir avançando” — exemplos do uso do verbo seguir como marca da linguagem típica dos planos de continuidade.
Nos planos de governo de continuidade de Salvador e Macapá, os prefeitos reeleitos Bruno Reis e Dr. Furlan usaram o verbo seguir — “seguir em frente”, “seguir avançando” — como expressão simbólica de estabilidade e progresso, característica comum em campanhas de continuidade.

Em resumo: continuidade como promessa de evolução

Os planos de governo de continuidade nas capitais em 2024 mostraram principalmente que a permanência deve ser comunicada como evolução segura. Com legado valorizado, dados como prova e futuro projetado com clareza, o eleitor tende a confiar e (re)eleger.

Para as Eleições 2026, a lição é clara: quem tem entregas precisa mostrá-las, bem como transformar conquistas em narrativa e alinhar o próximo ciclo como avanço natural.

Este é o fundamento para a construção de uma campanha que vá além de prometer e demonstre, acima de tudo, já ter a capacidade de realizar, consolidando no eleitor a percepção de que a melhor escolha é seguir em frente.

FAQ – Perguntas frequentes sobre plano de governo de continuidade

  1. O que é um plano de governo de continuidade?
    É o documento apresentado por candidatos à reeleição ou que representam a continuidade de um projeto político já em curso. Esse tipo de plano valoriza resultados anteriores e propõe o aperfeiçoamento das ações que deram certo.
  1. Como um plano de governo de continuidade se diferencia do plano da oposição?
    Enquanto o plano da oposição parte da crítica à gestão vigente, o plano de continuidade se baseia no legado: usa dados, entregas e reconhecimentos para justificar a permanência.
  1. Quais elementos tornam um plano de governo de continuidade mais convincente?
    Prestação de contas com resultados concretos, linguagem de estabilidade, validação externa (prêmios e indicadores) e participação popular estruturada.
  1. Por que estudar os planos de continuidade das capitais em 2024 é importante para 2026?
    Porque eles mostram padrões replicáveis de narrativa, estrutura e comunicação, que podem orientar candidatos à Presidência e aos Governos Estaduais nas Eleições 2026.
No próximo artigo: Plano de governo de mudança: lições dos prefeitos de oposição eleitos nas capitais em 2024