Grupo diverso de profissionais brasileiros colando post-its coloridos em parede de vidro durante reunião de planejamento, simbolizando colaboração e definição das primeiras ações no plano de governo.

Primeiras ações no plano de governo: como começar mostrando capacidade de trabalho

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José Roberto Martins

Jornalista e Especialista em Comunicação Governamental e Marketing Político | IDP Brasília

Da escuta à execução, um roteiro para iniciar a gestão com impacto e despertar a confiança das pessoas.

A avaliação de um governo começa no exato momento em que o novo gestor assume o cargo. O discurso de posse ainda ecoa, quando o cidadão já começa a perguntar: o que mudou?

É nesse momento que a política tem que deixar de ser promessa e passar a ser entrega. Até porque governos são eleitos para, em primeiro lugar, resolver problemas. Quando não conseguem demonstrar ação logo nos primeiros meses, o entusiasmo da vitória se transforma em cobrança e, o que é pior, má vontade (e reprovação) por parte da população.

Por isso, as primeiras ações têm de estar previstas já no plano de governo. Ou seja, não podem ser improvisadas. Elas fazem parte da estratégia que une visão de futuro e capacidade de resposta imediata.

Os marcos da gestão: ritmo e narrativa

Planejar as primeiras ações já no plano de governo é também planejar a narrativa da gestão. As primeiras ações fazem parte de um conjunto formado pelos marcos do mandato, que têm papel crucial na construção de confiança e credibilidade junto à população. Vamos relembrar:

MarcoFoco estratégicoObjetivo
100 diasConquistas rápidas e simbólicasMostrar ação imediata e mudança de atitude
200 diasContinuidade das entregas rápidasConsolidar imagem de governo ativo
1 anoPrestação de contas geralExpor resultados concretos e próximos da população
500 diasAvanços em projetos maioresMostrar capacidade de gestão e execução
2 anosNova prestação de contasReforçar transparência e compromisso
800 diasProjetos estruturantes avançadosEvidenciar transformação em curso
1000 diasResultados consolidadosPosicionar legado e visão de futuro
3 anos (no início do ano eleitoral)Síntese e narrativa de continuidadePreparar terreno para reeleição ou sucessão

Esses marcos, a começar pelas primeiras ações, devem estar previstos no plano de governo como um roteiro de gestão. Desse modo, o plano deixa de ser um documento apenas eleitoral e se consolida como um GPS político e administrativo.

Diagnóstico e definição das primeiras ações no plano de governo

Muita ideia boa já nasceu do acaso. Que o digam Isaac Newton com sua maçã e Arquimedes com sua banheira… Mas plano de governo não pode depender de sorte ou iluminação súbita.

As propostas do candidato, principalmente as primeiras ações, devem ser resultado direto de um diagnóstico profundo, aquele que orienta a elaboração do plano de governo e a estratégia da campanha.

É nesse diagnóstico que se identifica, entre outras coisas, o que é urgente, o que é viável e o que é possível fazer de imediato. Relembrando, ele combina três dimensões fundamentais:

  1. A escuta popular e as reuniões com especialistas revelam as dores e prioridades da população e de quem conhece cada área;
  2. As entrevistas com o candidato trazem visão de futuro e demonstram a capacidade real de execução;
  3. A análise de dados oficiais e indicadores públicos dá objetividade e consistência técnica às propostas.

Somadas, essas etapas ajudam a organizar as ações em três tempos (que se relacionam com os marcos que mencionamos anteriormente):

  1. Respostas imediatas, que podem ser executadas nos primeiros 100 a 200 dias;
  2. Ações de médio prazo, que exigem planejamento e coordenação intersetorial;
  3. Projetos estruturantes, que envolvem mais tempo, orçamento e articulação política.

É a partir desse cruzamento de informações que se constrói a lista das primeiras ações no plano de governo. Elas não surgem da intuição nem de um impulso de marketing, mas de um processo técnico e participativo.

Por isso, prever essas medidas desde o início é essencial para assumir o governo já sabendo por onde começar. Esse preparo facilita o trabalho da equipe de transição, dá ritmo à gestão desde o primeiro dia e evita dispersão de energia quando o momento pede foco e entrega.

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Ações rápidas são aquelas que o governo pode executar nos primeiros 100 a 200 dias do mandato, sem depender de longos trâmites legais, grandes orçamentos ou articulações complexas. São medidas que, acima de tudo, mostram serviço e geram confiança.

Nos municípios, podem ser coisas como:
  • Reforçar a limpeza urbana e recuperar praças abandonadas
  • Pintar escolas e postos de saúde
  • Consertar buracos nas vias mais movimentadas
  • Reorganizar o atendimento em unidades de saúde
Nos estados, ações rápidas podem incluir:
  • Destravar convênios e repasses aos municípios
  • Resolver demandas reprimidas de hospitais e universidades
  • Reforçar a manutenção emergencial de rodovias estaduais
  • Ativar programas já existentes com equipes e recursos disponíveis
No nível federal, é possível:
  • Agilizar cadastros de programas sociais
  • Rever decretos e normativas que travam políticas públicas
  • Reativar conselhos e canais de diálogo com estados e municípios
  • Lançar mutirões temáticos (vacinação, alfabetização, segurança alimentar)

Essas primeiras ações, quando previstas no plano de governo, têm enorme valor simbólico junto ao eleitor. Mostram que o candidato entende a urgência do cotidiano e não vai ficar esperando ou se enrolando. Eleito, vai fazer acontecer.

Quando a candidatura é de continuidade

Mesmo governos de continuidade precisam mostrar novidade. Eleitores que optam por reeleger o mandatário ou manter o seu grupo no poder também esperam evolução. Por menores que sejam, mudanças de gestão, comunicação e atendimento ao público podem gerar grande percepção de renovação.

O segredo é equilibrar o que deve permanecer com o que precisa mudar e/ou evoluir. E isso já deve ficar evidente nas primeiras ações pensadas no plano de governo.

Quando a candidatura é de mudança

Em contextos de mudança, o desafio é ainda maior. A sociedade rapidamente quer sentir a diferença. Assim, as primeiras ações têm valor duplo no plano de governo: prático e simbólico. Servem tanto para mostrar a intenção de resolver problemas quanto para marcar ruptura com o passado.

Por isso, o plano precisa prever gestos concretos que comuniquem esse novo tempo, desde o primeiro dia. Muito além de factoides ou de um mero espetáculo, trata-se de estratégia: afinal, a política é feita de sinais.

Em resumo

Prever as primeiras ações da gestão já no plano de governo é saber com antecipação os passos para dar ritmo à gestão desde o primeiro dia. O que acontece logo no começo costuma definir a percepção que as pessoas vão ter sobre os quatro anos seguintes.

O candidato que apresenta um plano bem desenhado consegue começar a trabalhar de imediato ao ser eleito, seja em um governo de mudança ou de continuidade.

É verdade que as grandes transformações exigem tempo, orçamento e articulação. Porém, conquistas menores podem se desenrolar logo e são igualmente valiosas. Elas mostram que o governante começou a agir, que há direção e que não se desperdiça tempo.

Para além do marketing e dos factoides, essas entregas iniciais são sinais claros de comprometimento com o eleitor/cidadão. E são elas que ajudam a construir, passo a passo, desde o plano de governo, a confiança que, afinal, sustenta toda a gestão.