Quem planeja bem desde a campanha consegue governar entregando resultados com maior agilidade.
Você venceu a eleição, fez a transição e chegou ao sonhado dia da posse! Mas dali a pouco… “A festa acabou”, como diz o clássico poema de Carlos Drummond de Andrade. A festa acabou, a posse passou, a luz da campanha se apagou. “O povo sumiu”! Ou melhor, o povo voltou à sua vida, deixou de ser eleitor e voltou a ser cidadão. “E agora, José?”
Agora é a hora de fazer o sonho virar realidade. De encarar o primeiro grande teste do novo governo: preparar o Plano Plurianual, o PPA. É agora que o plano de governo precisa virar estrutura de gestão: transformar promessas em programas, ideias em metas, intenções em orçamento.
Quem chega ao poder sem ter pensado nisso durante a campanha descobre tarde demais que terá de perder tempo começando do zero…
O que é o PPA e por que ele é obrigatório
Antes de qualquer governo começar a agir, precisa planejar. E o primeiro instrumento desse planejamento é o Plano Plurianual (PPA), uma exigência da Constituição Federal de 1988. A Carta Magna determina que a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios elaborem seus próprios PPAs, Leis de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e Leis Orçamentárias Anuais (LOA).
De acordo com o artigo 165 da Constituição, o PPA é o documento que organiza as ações do governo em programas, objetivos e metas para um período de quatro anos. Embora o texto constitucional mencione apenas a administração federal, o princípio da simetria faz com que essa obrigação se estenda também a estados e municípios, por meio de suas constituições e leis orgânicas.
Em outras palavras: todos os entes da federação precisam ter o seu PPA, elaborado pelo Poder Executivo e aprovado pelo Legislativo correspondente. É ele que dá base às políticas públicas e orienta as leis orçamentárias dos anos seguintes.
O processo funciona assim:
- O Executivo elabora o projeto de PPA no primeiro ano de mandato;
- O projeto é enviado ao Legislativo (Congresso, Assembleia ou Câmara Municipal) até 31 de agosto do primeiro ano de governo;
- Aprovado até o fim do ano, o PPA passa a vigorar a partir de 1º de janeiro do segundo ano do mandato, com validade até o final do primeiro ano do governo seguinte.
Por isso, o PPA é chamado de instrumento de médio prazo: ele ultrapassa o ciclo de um governo e garante continuidade administrativa.
A virada da campanha para a gestão
É na fase de transição que o eleito para o Executivo começa a transformar promessa em planejamento. É quando precisa compatibilizar o que defendeu na campanha com a realidade administrativa que vai assumir, alinhando metas, programas e recursos.
Quem pensou o plano de governo com mentalidade de gestor chega mais preparado, com rumo definido e prioridades claras. Já sabe o que aproveitar do PPA em vigor, o que precisa corrigir e o que deverá propor no novo. Assim, transforma a transição e o início do mandato em etapas de trabalho e não de espera.
Quando o plano de governo nasce estruturado para dialogar com o PPA, o novo governante começa o mandato sabendo onde estão as lacunas e o que pode ser acionado de imediato, sem aquela “bateção de cabeça”. Isso permite acelerar entregas, mesmo sob o PPA herdado da gestão anterior. Assim, evita-se desperdício de tempo e recursos.
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O plano como rascunho do PPA
Um bom plano de governo pode ser um esboço do PPA, traduzindo as prioridades políticas em diretrizes de médio prazo. Quando o candidato propõe, por exemplo, reestruturar a saúde, modernizar a educação ou atrair indústrias, está descrevendo ações que exigem mais de um exercício financeiro. Ou seja, precisam estar no PPA.
Isso não significa fazer do plano de governo um documento técnico demais, mas demonstrar preparo, coerência e credibilidade. O eleitor percebe e valoriza quando o candidato domina o que promete, diferencia promessa de planejamento e entende o caminho que precisa percorrer.
Pensar politicamente com mentalidade de gestor
Em muitas campanhas, o plano de governo é tratado como um documento apenas pra cumprir formalidade, feito de qualquer jeito ou até mesmo copiado de outros lugares, sem autoria, método e aderência à realidade orçamentária. E sem necessidade de ser cumprido…
A grande questão é que, antes de mais nada (e de mais ninguém), o candidato e sua equipe precisam entender que cada proposta tem um tempo e um custo para se concretizar. E que o plano precisa caber no orçamento e depende de programas, metas e indicadores. Ou seja, governar é priorizar.
Para isso, vale usar um roteiro na elaboração do plano de governo:
- definir três a cinco programas-guarda-chuva que concentrem as prioridades do governo;
- estabelecer metas e indicadores simples, de resultado e prazo;
- estimar custos e fontes de recurso;
- identificar quem executa e quem coordena cada iniciativa.
Essa visão prática transforma discurso em roteiro de gestão.
Do plano ao PPA: a costura das prioridades
Ao elaborar o PPA, o governante organiza suas propostas em programas e objetivos de médio prazo. Aquelas que dependem de infraestrutura, parcerias ou investimentos maiores ganham corpo, com metas verificáveis.
É aí que o plano de governo se materializa: deixa de ser um documento de campanha e se torna o eixo da gestão. O eleitor passa a enxergar em forma de resultados aquilo que foi prometido. E o governante conquista o que mais precisa: credibilidade para se reeleger, bem como alçar voos mais altos.
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O que o candidato pode fazer ainda durante a disputa
Antes de escrever o plano de governo, vale fazer três perguntas:
- Minhas propostas cabem em programas e metas de quatro anos?
- O que exige investimento plurianual e precisa estar no PPA?
- O que já está no PPA atual e deve ser mantido e/ou aprimorado?
Responder a essas perguntas ainda no período da disputa eleitoral ajuda a chegar ao governo com uma rota clara e colocar sua marca fazendo a máquina andar bem desde o primeiro dia.
Em resumo: governa melhor quem planeja bem
O plano de governo é a primeira tarefa do planejamento de uma gestão. Logicamente que, por questões eleitorais, o plano deve ter argumentos sólidos para inspirar confiança e conquistar o voto do eleitor. Mas também tem de se mostrar viável. É essa coerência que sustenta a vitória e, depois, a governabilidade.
Quem chega ao poder com um bom plano de governo chega com boa parte andada do caminho para fazer o PPA. E quem faz um bom PPA começa a construir, desde o primeiro ano, o legado que pretende deixar.
No fim das contas, o verdadeiro teste de um político vai além de vencer uma eleição. É transformar em resultados concretos os compromissos assumidos com o eleitor.



