Pessoa segura uma lâmpada acesa diante de um céu com tons rosa e azul, representando o surgimento de ideias e soluções criativas — imagem simbólica para o conceito de design thinking no plano de governo.

Design Thinking no plano de governo: o método que coloca ideias no lugar e dá força à candidatura

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José Roberto Martins

Jornalista e Especialista em Comunicação Governamental e Marketing Político | IDP Brasília

Um guia prático para quem quer fazer diferente e transformar o plano de governo em uma ferramenta real para conquistar votos e vencer a eleição

Design Thinking no plano de governo é uma ideia que pode soar ousada à primeira vista. Mas é, na verdade, uma forma bastante prática de trazer método e criatividade para a elaboração do plano de governo.

Até porque a gente sabe como as coisas costumam funcionar… Passa-se muito tempo sonhando com a candidatura. Meses articulando apoios, montando chapa, buscando espaço no partido, tentando sobreviver à pré-campanha. Mas quando chega a hora de escrever o plano de governo… vira aquele Deus nos acuda. E muitas vezes sai um documento às pressas, sem método, sem escuta real, sem tempo para pensar coletivamente.

Só que o plano de governo pode e deve ser mais do que um mero improviso. Pense nele como uma ferramenta estratégica para fortalecer a campanha, guiar a comunicação, mostrar preparo e conectar o candidato com os reais problemas das pessoas. E, como resultado, conquistar votos e vencer as eleições.

Mas, para isso, é preciso fazer diferente. E o Design Thinking é uma mão na roda!

O que é o Design Thinking e por que ele importa?

Ouvi falar sobre Design Thinking pela primeira vez em 2013, na pós-graduação em Marketing. Mas eu já estava atrasado, porque essa metodologia nasceu no final dos anos 1960, nos Estados Unidos, a partir da observação do modo como designers pensam e resolvem problemas.

A ideia central é simples: o designer não enxerga só produtos. Ele enxerga problemas que afetam o bem-estar das pessoas. Por isso, seu trabalho começa com empatia, continua com investigação e só então avança para soluções. É um processo que mistura lógica e sensibilidade, dados e percepção, estrutura e intuição.

É justamente por isso que tanta gente começou a aplicar o Design Thinking em áreas como educação, saúde, serviços públicos e inovação social. E se isso funciona tão bem na inovação, por que não aplicar na política? Dessa forma, também faz sentido usá-lo na construção de um plano de governo que leve em conta as pessoas, os dados e a realidade local.

O que faz sentido aproveitar do Design Thinking na hora de criar um plano de governo?

Utilizar Design Thinking no plano de governo é possível e recomendável. Claro que nem tudo precisa (ou deve) ser aplicado de forma literal. Essa é uma ferramenta que nasceu no mundo corporativo, no universo dos produtos e serviços. Mas muita coisa do Design Thinking pode e deve ser aproveitada no processo de criação de um plano de governo.

O que faz muito sentido é a forma de pensar:

  • Dividir grandes problemas em partes menores, como ensinou o professor Randy Rachwal nas aulas da pós em 2013: “cortar o problema para enxergar melhor cada pedaço”.
  • Fazer um diagnóstico verdadeiro, com escuta qualificada, indo além do mero achismo.
  • Reunir pessoas diferentes para pensar em conjunto, testar ideias antes de formalizá-las e priorizar com critério.
  • Transformar o plano em algo vivo, construído com as mãos e a cabeça de quem conhece o lugar.

O que acontece em cada fase do Design Thinking no plano de governo?

1.     Empatia e diagnóstico

Aqui é onde tudo começa. É hora de escutar, observar, entender. Vale usar entrevistas em profundidade, grupos focais, análise de redes sociais (netnografia), leitura de dados e escuta qualificada em campo.

2.     Definição dos desafios

Com base no que foi coletado, a equipe define os desafios centrais. Aqueles que, se resolvidos, geram transformação real. É a hora de perguntar: “como podemos resolver tal problema?”. Essa pergunta guia o raciocínio e ajuda a manter foco nas coisas que realmente importam.

3.     Ideação e cocriação

Etapa para pensar soluções. Reuniões de brainstorming com especialistas, técnicos, apoiadores, gente do povo. Nada de censurar ideias nessa fase, porque o importante é criar possibilidades.

4.     Seleção e priorização

Com a lista de ideias em mãos, é hora de aplicar critérios: impacto, viabilidade, urgência, capacidade de execução. Nem tudo cabe e não há problema em descartar o que não se sustentar de pé.

5.     Testes e feedback

Antes de fechar a versão final do plano de governo, é bom validar. Em outras palavras, ver se a proposta faz sentido, se está compreensível e responde às dores reais da população. Às vezes, pequenos ajustes fazem muita diferença.

6.     Redação final

Agora sim: revisar, alinhar com o discurso do candidato, ajustar linguagem e garantir que o plano seja claro, objetivo e inspirador.

7.     Diagramação e preparação

Última etapa. Aqui entra a parte gráfica, identidade visual, revisão final e preparação do arquivo oficial para ser protocolado na Justiça e compartilhado com a população.

Mas atenção: Design Thinking exige tempo!

Essa abordagem tem muitas virtudes, mas uma limitação inegociável: ela precisa de prazo. Não dá para aplicar Design Thinking no plano de governo com o prazo estourando. É preciso ter tempo para o processo de escuta, aprofundar análises e refinar as propostas.

No caso das Eleições 2026, o prazo final para o registro das candidaturas será o dia 15 de agosto. E, você sabe, o plano de governo é um dos documentos exigidos no momento do registro.

Portanto, o ideal é que o plano de governo esteja pronto, revisado, diagramado e fechado até o dia 8 de agosto, para evitar tumulto. Pensando nisso, proponho um cronograma mínimo, que respeita as etapas do Design Thinking e permite um trabalho bem feito, com método, escuta e margem para ajustes.

Cronograma sugerido para utilizar Design Thinking na elaboração do plano de governo:

FasePeríodoDuração
Empatia e diagnóstico19 de abril* a 8 de maio20 dias
Definição dos desafios9 de maio a 18 de maio10 dias
Ideação e cocriação19 de maio a 10 de junho23 dias
Seleção e priorização11 de junho a 24 de junho14 dias
Testes e feedback25 de junho a 8 de julho14 dias
Redação final9 de julho a 1º de agosto24 dias
Diagramação e preparação Final2 de agosto a 8 de agosto7 dias

*Se puder, comece antes de abril!

Em resumo: mais do que um plano de governo, uma ferramenta de campanha

Aplicar o Design Thinking no plano de governo não é modismo. Até porque Design Thinking não é exatamente uma novidade. Mas é um sinal de maturidade, profissionalismo e cuidado com o plano que será apresentado aos eleitores. Além de evitar aquele “inferno” que é deixar algo tão importante para a última hora.

Para coordenadores, redatores e o próprio candidato, esse processo é uma chance de aprender com o território e as pessoas, traduzir as dores em ideias possíveis e apresentar propostas com cara de realidade, conversando diretamente com a cabeça e o coração do eleitor.

A gente sabe muito bem que um plano de governo bem feito pode não ganhar uma eleição sozinho. Mas um plano mal feito, com certeza, não ajuda a vencer. Vamos fazer bem feito, então? O Design Thinking é uma mão na roda!