Conheça essa forma prática de transformar ideias e histórias em elementos para fortalecer o plano de governo
No processo de elaboração de um plano de governo, é fundamental que as equipes se concentrem no diagnóstico, na investigação das demandas de cada área e nas ideias para solucionar os desafios.
No meio disso tudo, há um ingrediente que não pode faltar nessa receita: a voz do candidato. Não se trata apenas do que o candidato fala por meio das propostas de campanha. Quando se trata da voz dele, isso envolve valores, visão de mundo, modo de se expressar, histórias de vida, crenças e estilo de liderança, entre outros pontos.
Um bom plano de governo precisa refletir tudo isso. E, para capturar essa essência, entrevistar o candidato com a técnica do diamante é um dos caminhos mais eficazes.
Esse é o tema do terceiro artigo da nossa série sobre como entrevistar o candidato para construir um plano com identidade.
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O que é a entrevista diamante e por que ela tem esse nome?
A entrevista diamante é uma técnica que ajuda a ouvir a pessoa real, não só o político que está em campanha. Ela tem esse nome justamente por causa do formato da conversa, que lembra um diamante (ou losango): começa focada, se abre para a exploração em maior profundidade e volta a se fechar em síntese. Veja as etapas:
- Perguntas específicas e objetivas, que servem como aquecimento.
- Perguntas amplas e abertas, que permitem aprofundar vivências, ideias, crenças e emoções.
- Novamente perguntas específicas, voltadas para pontos sensíveis, estratégicos ou que exigem respostas diretas.
É esse “abrir e fechar” da conversa que forma o diamante: uma trajetória que ajuda o entrevistador a não ficar na superfície nem perder o foco, ao passo que permite ao entrevistado se abrir de forma mais natural, revelando experiências e ideias com mais clareza.
O papel do diamante na campanha eleitoral
A entrevista diamante é uma das etapas do planejamento estratégico da campanha eleitoral. Junto da entrevista em profundidade, ela ajuda a encontrar caminhos para a narrativa, a partir da história de vida, da forma de pensar e do jeito de se expressar do candidato.
Enquanto a entrevista em profundidade é sigilosa e de uso interno, o diamante é gravado e pode gerar conteúdo para o plano de governo, as redes sociais e os programas de TV e rádio, bem como materiais diversos.
O que a entrevista diamante tem a ver com o plano de governo?
No momento de estruturar o texto das propostas, é interessante fazer um exercício de imaginação: “O candidato falaria isso assim num debate?”.
Se a resposta for não, é preciso ficar atento para, além de números e diagnósticos, buscar também a voz do candidato. Nesse sentido, a entrevista diamante traz informações importantes:
- O vocabulário natural e o jeito de se expressar do candidato, para evitar dissonância entre o que está no papel e o que ele fala de viva voz.
- Histórias e valores que possam fundamentar bandeiras e propostas, garantindo coerência entre biografia, discurso e compromisso público.
- Temas delicados que precisam ser tratados com cautela, reduzindo riscos de contradição ou desgaste durante a campanha.
Dessa forma, é possível construir um plano de governo com conteúdo técnico e clareza política, sem artificialidade, soando como o próprio candidato falaria.

Roteiro prático para utilizar a entrevista diamante no plano de governo
O roteiro abaixo traz exemplos de perguntas que podem guiar uma entrevista diamante. Não se trata de uma receita pronta, mas de uma base que deve ser adaptada à realidade do candidato e da campanha:
Etapa 1 – Perguntas específicas e objetivas
A conversa começa, antes de mais nada, com perguntas fechadas e diretas, tratando de fatos concretos, cronologia básica e marcos da trajetória. O objetivo é quebrar o gelo e deixar o candidato à vontade.
Exemplos:
- Quem é você, onde você nasceu e quem são seus pais?
- Qual foi o seu primeiro cargo público ou função de liderança?
- O que mais te marcou na tua trajetória até aqui?
- Quem são as pessoas que você mais admira?
Etapa 2 – Perguntas amplas e abertas
Neste momento, a entrevista se expande. É hora de deixar o candidato refletir e contar histórias. Essa etapa busca explorar principalmente histórias de vida, motivações e crenças, revelando emoções e visões de mundo.
Exemplos:
- Como foi a sua infância? Tem alguma imagem ou história marcante?
- Como foi a vida estudantil? Quais os fatos que marcaram sua vida na escola/universidade?
- O que o motivou na escolha da sua profissão?
- O que o move hoje a entrar (ou seguir) na política?
- Qual é o legado que você gostaria de deixar como gestor público?
- Que aprendizados mais moldaram a forma como você pensa as políticas públicas?
Etapa 3 – Novamente perguntas específicas e focadas
Logo depois, a conversa se afunila de novo, com perguntas específicas que ajudam a resumir ideias e projetar o futuro.
Exemplos:
- Que prioridade você colocaria logo nos 100 primeiros dias de gestão?
- Se tivesse que resumir seu estilo de liderança em uma frase, qual seria?
- Que temas são inegociáveis na sua atuação como gestor?
- Por que eu deveria votar em você? O que o diferencia dos outros candidatos?
- Vamos fazer de conta que você foi eleito e estamos na sua posse. É hora do seu discurso. Queremos te ouvir.
Em resumo: por que o diamante fortalece o plano de governo
A entrevista diamante é mais do que um recurso de coleta de informações: ela é uma etapa estratégica que dá densidade ao plano de governo e à campanha. Esse tipo de conversa permite captar crenças, valores, experiências de vida e referências que ajudam a construir um documento vivo, que o candidato vai defender porque realmente se reconhece nele.
Esses elementos são inspiração para abrir o plano com força, como um manifesto autêntico da candidatura, e também para dar consistência às propostas. Além de baseadas no diagnóstico da realidade e nas demandas das pessoas, elas vão carregar a visão de mundo e o jeito de pensar do candidato. Assim, o plano une duas vozes: a voz da população e a voz de quem se coloca à disposição para governar.
É verdade que a maioria das pessoas não lê o plano de governo. Já falamos disso em outro artigo. Mas e se esse documento fosse forte, a ponto de ser capaz de atrair leitores e eleitores?
É esse o potencial que o diamante traz: transformar o plano em uma peça estratégica da campanha, para, como resultado, conquistar a confiança do eleitorado.



