Diagnóstico objetivo do presente e visão afirmativa de futuro foram a base das propostas.
Quando o eleitor sente que precisa seguir outro rumo, o candidato que apresenta um plano de governo de mudança ganha protagonismo.
Foi o que se viu em 2024 em oito capitais brasileiras que elegeram candidatos de oposição às gestões anteriores: Aracaju, Belém, Cuiabá, Fortaleza, Goiânia, Palmas, Porto Velho e Teresina.
Analisamos os planos de governo dos vencedores nessas cidades e duas coisas ficaram claras:
- O plano de governo serviu como manifesto de contraste, construindo uma narrativa de urgência e esperança.
- Existem padrões replicáveis para candidaturas de oposição nas Eleições 2026, seja para governos estaduais ou a presidência da República.
Vamos conversar sobre isso?
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Linguagem da mudança: contraste e emoção
O primeiro movimento dos planos de mudança foi marcar contraste com a gestão que estava em vigor. Assim, apresentaram diagnósticos duros, seguidos de visões afirmativas de futuro. O vocabulário privilegiou termos de ação e recuperação. “Resgate”, “união”, “aceleração”, “eficiência” são palavras comuns em campanhas de mudança, convidando o eleitor a tomar uma decisão urgente.
Essa escolha de palavras e de tom se refletiu nas falas dos candidatos, que usaram expressões diretas para transformar crítica em mobilização:
- Em Cuiabá, Abilio Brunini disse ser “urgente uma mudança completa na administração municipal”.
- Em Goiânia, Sandro Mabel reforçou: “Goiânia tem pressa. Goiânia precisa ligar o motor, acelerar fundo”.
- Em Aracaju, Emília Corrêa intitulou seu documento de “Plano de Soluções”, prometendo ações práticas já nos primeiros meses de governo.
A força da linguagem de mudança ficou evidente também na emoção como reforço à razão. O discurso de esperança ajudou a consolidar a credibilidade de quem se apresentava como o rosto de um novo ciclo político:
- Em Belém, Igor Normando escreveu: “É possível, entretanto, romper com as incompetências do passado e superar a baixa autoestima que acomete tanta gente? (…) A resposta é sim, mil vezes, sim!”
- Em Palmas, Eduardo Siqueira Campos evocou o legado do pai, o ex-governador Siqueira Campos: “Os sonhos não morrem e o impossível não existe, a solução será sempre o trabalho incansável.”
Essas expressões mostraram que a linguagem da mudança combinou firmeza e afeto, crítica e esperança, e conseguiu transformar o contraste político em sentimento de pertencimento e mobilização real.
Narrativa e tom: do problema ao compromisso
Além disso, os planos vencedores seguiram um fio narrativo claro:
- Começar com os problemas
- Apresentar soluções diretas
- Terminar convocando a população para um futuro melhor.
O ciclo “problema → solução” foi essencial para dar clareza e força persuasiva.
- Em Porto Velho, Leo Moraes ligou a violência urbana à necessidade de uma política integrada de segurança.
- Em Teresina, Silvio Mendes trouxe propostas concretas para os problemas de mobilidade, como ciclovias e bicicletários.
- Em Fortaleza, Evandro Leitão chamou atenção para o contraste social: “Um dos maiores problemas que a cidade ainda apresenta é o visível contraste entre seu lado rico e uma grande parte de sua população em situação de miséria”. O plano prometia políticas de inclusão socioeconômica como resposta.
- Em Cuiabá, o próprio título (“Resgatando Cuiabá”) já traduzia a ideia de recuperação.

Métodos de construção: legitimidade pela escuta
Por outro lado, os candidatos procuraram mostrar que conheciam os problemas melhor que seus adversários, já que seus planos nasceram de processos coletivos, como escuta da população e participação de especialistas.
- Em Aracaju, Emília Corrêa afirmou: “Percorremos todos os bairros, ouvimos moradores”.
- Em Goiânia, Sandro Mabel disse que seu plano foi fruto da participação de diversos setores da sociedade.
- Em Teresina, Silvio Mendes declarou que o documento “não é fechado nem concluído”, podendo sempre receber novas opiniões.
- Em Palmas, Eduardo Siqueira Campos propôs “Acordos Coletivos de Cidadania”, como forma de pactuar prioridades.
- Em Fortaleza, Evandro Leitão apresentou um processo de elaboração que incluiu 23 grupos temáticos, formulários digitais e rodas de conversa presenciais.
Cartas, mensagens iniciais e até slogans reforçaram essa estética de credibilidade, como o popular “Chama o Sandrão que ele resolve”, em Goiânia.
Cinco pontos que podem ser replicados nas Eleições 2026
A análise mostra lições práticas para quem disputará as Eleições 2026 contra candidaturas de reeleição ou continuidade:
- Diagnóstico de abertura – em primeiro lugar, apresente dados claros que mostrem por que é preciso mudar.
- Narrativa problema-solução – em segundo lugar, organize o texto em blocos que liguem dores a propostas.
- Tom transformador – além disso, mantenha crítica e esperança equilibradas, transmitindo confiança.
- Estética da credibilidade – da mesma forma, mostre que o plano foi construído com dados, especialistas e escuta social.
- Convocação final – por fim, chame o eleitor a participar do projeto de futuro.
Em resumo: o plano de governo como promessa de mudança
Os planos de governo de mudança que venceram nas capitais nas Eleições 2024 funcionaram como manifestos de contraste, unindo diagnóstico, narrativa clara e compromissos visíveis.
Em Aracaju, Belém, Cuiabá, Fortaleza, Goiânia, Palmas, Porto Velho e Teresina, cada documento ajudou a transformar insatisfação em esperança e, dessa forma, teve papel crucial no sucesso das campanhas que levaram esses candidatos à vitória.



