A análise de forças, fraquezas, oportunidades e ameaças dá base para decisões mais seguras e narrativas mais fortes.
A Matriz SWOT no plano de governo é uma das ferramentas mais poderosas que um candidato pode usar para planejar a campanha e construir propostas consistentes.
Essa metodologia ajuda a entender onde estão suas vantagens e vulnerabilidades, o que o cenário oferece de oportunidade, o que pode vir a ameaçá-lo e como se preparar melhor para a jornada.
Afinal, quem conhece a si mesmo e o ambiente onde atua, enxerga o jogo com mais clareza, transforma informação em estratégia e toma as decisões certas na hora certa.
O que é a Matriz SWOT e de onde ela veio
A sigla vem do inglês Strengths (forças), Weaknesses (fraquezas), Opportunities (oportunidades) e Threats (ameaças). Também pode ser chamada de FOFA… sim, a partir das iniciais das palavras em português!
Mas vamos usar aqui o termo consagrado internacionalmente. A Matriz SWOT surgiu no mundo corporativo, como instrumento de planejamento estratégico, mas logo atravessou fronteiras.
Na política, ela funciona como uma lente que amplia o entendimento do candidato e da equipe sobre dois universos complementares:
1. Ambiente externo (cenário político)
É o conjunto de fatores fora do controle direto do candidato. Por exemplo:
- Humor do eleitorado
- Conjuntura política
- Contexto econômico e social
- Desempenho de adversários
- Tendências de comunicação e mídia
Esses elementos fazem parte das oportunidades e ameaças da matriz. Eles ajudam a entender o ambiente em que a campanha vai atuar. Porém, isoladamente, não explicam o desempenho do candidato.
2. Ambiente interno (a candidatura)
É o conjunto de fatores que dependem do próprio candidato e da equipe, como:
- Imagem pública, reputação, trajetória
- Habilidades de comunicação e empatia
- Organização da pré-campanha e alianças
- Capacidade de articulação e execução
Pontos como esses compõem as forças e fraquezas da matriz. Eles mostram o quanto a candidatura está preparada para aproveitar oportunidades e reagir a ameaças.

Por que utilizar a Matriz SWOT no plano de governo
Já sabemos que muita gente ainda trata o plano de governo como uma exigência burocrática da lei eleitoral. Aquela “peça de ficção” feita de qualquer jeito, só para cumprir prazo. Mas o plano de governo é ouro puro que enriquece a estratégia da campanha. E a SWOT, aplicada logo no início do processo, ajuda a:
- Fundamentar o diagnóstico: entender onde a candidatura se sustenta e onde precisa de reforço
- Antecipar riscos: enxergar crises antes que elas aconteçam
- Conectar propostas à realidade: alinhar o que se promete aos anseios do eleitor e ao que é possível entregar
- Dar coerência à narrativa política: construir um discurso que une propósito, contexto e capacidade de execução
Como aplicar a Matriz SWOT na elaboração do plano de governo
Antes de mais nada, é preciso reunir a equipe, abrir espaço para escuta e responder a um conjunto de perguntas-guia. A força da ferramenta está na honestidade das respostas. Ou seja, não há espaço para autoengano aqui. Veja exemplos do que pode ser explorado em cada quadrante:
1. Forças
O que o candidato tem de melhor?
- Histórico de realizações concretas
- Imagem pública ou reputação consolidada
- Rede de apoiadores
- Reconhecimento por competência em áreas-chave
2. Fraquezas
Quais pontos podem atrapalhar a caminhada?
- Inexperiência administrativa
- Questionamentos jurídicos ou éticos
- Falhas de comunicação
- Baixa penetração em determinados segmentos do eleitorado
3. Oportunidades
Que fatores externos podem favorecer a candidatura?
- Desgaste dos atuais representantes
- Receptividade ao tipo de liderança que ele representa
- Mudanças sociais ou econômicas que abrem espaço para um novo discurso
- Temas pouco explorados por adversários.
4. Ameaças
O que pode minar o avanço da candidatura?
- Polarização
- Concorrentes fortes com recursos robustos
- Risco de ataques nas redes ou de crises de imagem
- Episódios nacionais que contaminam o debate local
Vale lembrar: o mesmo fator pode ser força ou fraqueza, dependendo do contexto.
Um candidato sem experiência administrativa, por exemplo, pode ser visto como fraco em gestão, mas forte se o eleitorado estiver cansado dos “políticos de sempre”. O olhar estratégico está em interpretar cada ponto sob a ótica adequada.
LEIA TAMBÉM:
Como extrair valor no cruzamento das informações
Depois de preencher cada quadrante, o passo seguinte é cruzar as informações. Ou seja, olhar para as combinações possíveis entre o que está dentro e fora da candidatura:
1. Força + oportunidade = potencial de avanço
Quando uma característica positiva da candidatura se conecta a um fator favorável do ambiente, nasce uma chance concreta de crescer.
Por exemplo: se o candidato tem boa imagem em gestão pública (força) e o eleitorado está cansado de promessas e quer resultados (oportunidade), isso precisa ser explorado no discurso, nas propostas e na comunicação. É hora de ampliar e comunicar: mostrar esse diferencial de forma clara e constante. É o terreno ideal para consolidar a vantagem.
2. Força + ameaça = necessidade de blindagem
Quando uma força se choca com um risco externo, a prioridade é proteger o que já se tem.
Por exemplo: se o candidato é reconhecido por sua trajetória limpa (força), mas há um ambiente de ataques e fake news (ameaça), é preciso investir em blindagem: monitoramento, resposta rápida e reforço da narrativa de credibilidade. Em outras palavras, é a vacina: usar o que tem de melhor para neutralizar o risco.
3. Fraqueza + oportunidade = espaço de ajuste
Aqui entra a inteligência estratégica: existe uma chance no cenário, mas algo dentro da campanha precisa melhorar para aproveitá-la.
Por exemplo: se há um desejo popular por renovação (oportunidade) e o candidato tem perfil técnico, mas pouca conexão emocional (fraqueza), o caminho é fazer ajustes. No caso, reforçar linguagem empática, abrir canais de escuta, mostrar o lado humano. Assim, a fraqueza vira ponto de evolução.
4. Fraqueza + ameaça = alerta máximo
É o quadrante do cuidado. Quando um ponto fraco interno se combina com um risco externo, o resultado pode ser explosivo.
Por exemplo: se a campanha tem pouca estrutura digital (fraqueza) e o ambiente eleitoral tende a se concentrar nas redes (ameaça), insistir nesse terreno sem preparo é perder tempo e credibilidade. A saída é recuar, planejar e corrigir o rumo.

Esse cruzamento transforma a Matriz SWOT em uma ferramenta de decisão estratégica real.
Ele ajuda a equipe a definir prioridades, linguagem, foco e ritmo da campanha, começando com um plano de governo coerente com o cenário, que dialoga com a realidade da candidatura e com o humor do eleitorado.
Um conselho prático
Não espere o registro da candidatura para fazer a Matriz SWOT. Comece o quanto antes. Você terá material não só para estruturar o plano de governo, mas também para orientar a comunicação, o discurso e o posicionamento ao longo da disputa.
Em resumo
A Matriz SWOT no plano de governo vai além da leitura de contexto político. É uma ferramenta de autoconhecimento estratégico da candidatura. Em suma, ela combina duas perguntas essenciais:
- O que está acontecendo ao meu redor?
- O que eu tenho ou não tenho para agir dentro dessa realidade?
Ou seja, como o candidato deve se posicionar diante das variáveis externas e internas que o cercam.
A SWOT oferece um retrato nítido de onde se está e do que é preciso fazer para chegar aonde se quer. Ela transforma percepção em estratégia e estratégia em vantagem competitiva.



